“Um emocionante romance de formação narrado com a precisão de um thriller à Hitchcock”? É isto que o teaser, ou a assinatura do livro, nos diz. Fragmentos, pausas, interrupções e tempo. Muito tempo. Assim se caracteriza “A Vida Feliz” (Quetzal, 2019), o primeiro livro de Elena Varvello publicado em Portugal.
A reflexão de um filho sobre o pai, sobre si mesmo e sobre a relação de ambos. E a perspectiva de um adolescente da vida sobre a amizade, a sexualidade, a família e o futuro. A sua integração sem interrogações na vida de estudante e na sociedade. A simplicidade que impera neste livro é tocante, sobretudo considerando que decorrem dois crimes sórdidos ao longo da história narrada por Elia, o rapaz que partilha connosco a sua história.
É interessante a forma como o desentendimento do rapaz sobre o mundo é espelhada na forma como ele nos fala e como narra a sua vida. A ingenuidade, o desinteresse e a curiosidade estão manifestamente patentes na voz de Elia, que nos fala sem juízos de valor. A sua observação do pai, por exemplo, um homem que perdeu o emprego e que aparentemente entra numa espiral de demência, é especialmente interessante de ler: porque o rapaz não julga os seus comportamentos e está longe de demonstrar afecto ou carinho por alguém que demonstra sinais de doença mental. Ele é um observador da sua própria história, mas a sua passividade não é enervante. Pelo contrário. A estruturação de ideias resulta na fragmentação e na criação de pausas, por vezes até na falta de fio condutor na descrição de alguns acontecimentos, o que marca o ritmo do livro e cria suspense de uma forma lenta, mas necessária. Estamos na Itália profunda. Poderia ser de outra forma?
Elena Varvello escreve frases curtas, estrutura o livro em capítulos curtos e mesmo a própria história é curta, resolvida apenas durante o tempo suficiente para que possamos conhecer Elia e a sua visão sobre o que o rodeia. A leitura é lenta e deve ser apreciada.
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