Já diz e bem a sabedoria popular: quem conta um conto acrescenta um ponto. Sobretudo se a história for contada na primeira pessoa, tratando o narrador de acrescentar ainda mais cores a uma narrativa que, logo à partida, chega com (pelo menos) as cores do arco-íris.
Em “Verdade?!“, o novo livro de Bernardo P. Carvalho, acompanhamos um pescador e o seu fiel amigo numa tarde de pescaria. Tudo parece correr bem, até que no horizonte se começam a desenhar nuvens negras que prometem não trazer nada de bom.
A apreensão e o medo vão crescendo nos dois amigos de pescaria que, sem tempo de voltar atrás, são levados por uma onda gigantesca, perdendo o controlo sobre a pequena embarcação. A partir daqui instala-se o pânico e, entre a adrenalina e a alucinação, chegam tempestades, rebentam trovões, aproximam-se monstros marinhos, dançam sereias de sorrisos nos lábios, surgem peixes gigantes, despertam remoinhos até que, no acalmar da tormenta, desponta, por entre muitas lágrimas, a alegria do salvamento.
Recorrendo a um quadrado cromático – branco, preto, azul e vermelho -, Bernardo oferece uma história que, por detrás do aparente silêncio da ausência de diálogos ou palavras soltas, nos enche a alma de sons e movimentos violentos: há trovões em fúria, ondas furiosas, ventos cortantes, murmúrios de sereias e rugidos de monstros que só se podem encontrar em enciclopédias dedicadas a seres fantásticos. Permitindo que, por momentos, também nós leitores nos transformemos em pescadores destemidos, prontos a desafiar a fúria do destino. Ou, se quiserem, as perguntas de conhecidos e estranhos num qualquer balcão de café.
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