Imaginem estarem diante de uma piscina vazia, prontos para dar umas braçadas na paz de Nemo, quando de repente se instala o espírito de Agosto e, de súbito, as águas são revoltas por um bando de veraneantes em fúria, de braço dado com barcos, bóias e outras coisas com o poder de flutuação. Um cenário tão densamente povoado que, ao pé desta piscina, Armação de Pêra quase chega a parecer um deserto. Quase.
Num lugar onde ao primeiro vislumbre não existe qualquer porção de água, poucos se parecem divertir, e é então que o jovem protagonista, que nas primeiras páginas ainda sonhou com um mergulho recompensador, decide ir ao fundo da questão – e da piscina. Será nesse lugar aparentemente inabitado que o rapaz de calções azuis encontra a rapariga de fato de banho vermelho, juntos descobrindo mundos fascinantes.
No fundo desta piscina, os dois encontram peixes exóticos ou de dentes extremamente afiados, corais que ali parecem florestas, criaturas que nos habituámos a encontrar apenas nos contos de fadas e bruxas.
“A Piscina” (Orfeu Negro, 2019) é uma história muda sobre a amizade, os valores e a capacidade de fintar o real, alcançando a felicidade entrando e saindo por portas invisíveis ao olhar da multidão.
As ilustrações de JiHyeon Lee são primorosas, sempre com uma certa sombra de religiosidade, onde as cores muito discretas são, por vezes tomadas, por explosões que nos fazem arregalar os olhos. Palavras para quê?
JiHyeon Lee é ilustradora e vive em Seoul, na República da Coreia. Os seus Álbuns revelam um fascínio por mundos apenas ao alcance da imaginação. Este álbum sem palavras inspira-se nua experiência (sur)real da autora. “A Piscina” foi o seu primeiro livro e recebeu em 2015 a Medalha de Ouro da Society os Illustrators` Original Art Show.
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