“Ao longo dos anos, disse-te inúmeras vezes que não deverias ter medo de nada. Que os monstros não existiam. Desculpa ter-te mentido.”
É desta forma franca e algo aterradora, numa carta dirigida a Jake pelo seu pai, que tem início “O Homem dos Sussurros” (Topseller, 2019), um thriller muito bem desenhado por Alex North, onde se entra num universo fantasmagórico povoado pelo Sr. Noite, o menino no chão, borboletas, uma menina com um vestido vermelho e, claro, o Homem dos Sussurros. Terminada a leitura, é muito provável que queira voltar a ler tudo do início, tentando atar as pontas que ficaram perdidas algures no caminho.
Após a morte da mulher, o escritor Tom Kennedy muda-se com o filho Jake, com 7 anos e uma grande habilidade para o desenho, para uma aparente pacata povoação chamada Featherbank, em busca do clássico recomeço, mas a verdade é que esta localidade, bem como a casa para onde vão morar, escondem um passado com muitas sombras.
Foi aqui que há vinte anos atrás Frank Carter, um assassino em série que ficou conhecido como o Homem dos Sussurros, raptou e assassinou cinco rapazes, tendo um deles, Tony Smith, nunca sido encontrado. A alcunha foi-lhe dada por atrair as suas vítimas à noite, sussurrando-lhes da janela.
Pete, um inspector em muito forma mas dominado pelas memórias, é a única pessoa com quem o encarcerado Frank Carter fala. Um passado que volta em força quando um rapaz desaparece no tempo presente, em circunstâncias que levam a crer que o Homem dos Sussurros regressou ao activo.
Quanto a Jake, desenvolve uma amizade preocupante com uma amiga imaginária, que o vai avisando em rima do perigo que corre: “Se brincares na rua sozinho, jamais voltarás para o teu cantinho. Se deixares uma porta entreaberta, ouvirás os sussurros na certa“.
Narrado a meias entre um narrador com jeito para o desassossego e o pai de Jake, “O Homem dos Sussurros” é uma mistura de thriller e romance de terror, que começa em lume brando para nos levar, passo a passo, para uma fornalha onde são forjados alguns dos piores pesadelos. Não faltam os twists e as surpresas, num enredo muito bem montado e cativante, que consegue prender até à última página, deixando a massa cinzenta perdida numa casa às escuras e com teias de aranha agarradas ao rosto. Assustem-se por vossa conta e risco.
Sem Comentários