Estamos a poucas semanas das Eleições Legislativas, pelo que é aconselhável, para além dos normalmente pouco entusiasmantes programas eleitorais, passar os olhos por alguma literatura. Como, por exemplo, esta “Eleição dos Bichos” (Nuvem de Letras, 2019), que lança a bicharada numa muito participada e acesa disputa eleitoral.
O cenário é mais ou menos aquele que, normalmente, encontramos numa Câmara Municipal após largos anos de maioria absoluta e habituação ao poder: “Na floresta não se falava noutra coisa. O leão tinha desviado toda a água do rio para construir uma piscina em frente à sua toca”. Chega assim a hora da revolta, sendo convocada uma manifestação que, numa questão de dias, se transforma no anúncio de eleições antecipadas e totalmente inesperadas. Mas o que são afinal eleições, pergunta a pequenada. Aqui, será uma criada pelo Comité Eleitoral dos Bichos, com regras que incluem a proibição da “troca de presentes entre candidatos e eleitores” – desculpa, Valentim – ou a proibição de “devorar os adversários”.
As campanhas de marketing estão ao rubro e apontam ao coração, à memória e ao voto, com slogans como “Pela tradição, vota leão!”. Leão que, note-se, tem vários concorrentes de peso: a macaca, que promete tocas e lares para todos; a cobra, que conhece cada buraco e ninho da terra; a preguiça, que só não tem pressa porque um bom governo não se constrói da noite para o dia.
Acompanhamos as estratégias políticas, as idas à TV, as selfies tiradas na rua com os apoiantes, a distribuição de panfletos, as conversas inflamadas, a colagem dos cartazes e os animados debates, até à divulgação dos resultados e consequentes comentários pós-eleitorais.
Para o final propõe-se aos leitores que criem um final alternativo, além de se explicarem conceitos como democracia ou o que é uma urna. Um livro feito com e para crianças, “um trabalho aberto e colectivo criado a muitas mãos”, que convida a um diálogo construtivo entre crianças e adultos. E, claro, a que os maiores que ponham os olhos nisto não se baldem ao seu dever cívico.
Sem Comentários