Lembram-de Ego, o crítico implacável do animado Ratatouille que, a certa altura, diz de uma forma distante não gostar de comida mas apenas de a apreciar? Pois bem, Orlando Leite estará num nível bem mais sentimental do que o mostrado por Ego – pelo menos antes do regresso inesperado à infância -, não escondendo a sua paixão pelas tradições e costumes com selo nacional.
Depois da edição de “Guia das Tascas e Tabernas de Portugal”, o autor acrescenta agora o fado como banda sonora e apresenta o novo guia dos mais autênticos e castiços espaços para comer, beber e conversar em Portugal, servido em generosas doses com o título “ Guia das Tascas, Tabernas e Casas de Fado de Portugal” (Marcador, 2015).
Jornalista há mais de trinta anos na área da cultura, com colaborações em publicações como o O Independente, Semanário, 24 Horas, i e Magazine Artes, Orlando Leite diz ter encontrado o “mapa” taberneiro nacional em perfeito declínio, entre o medo de uma inspecção sanitária e as queixas de falta de apoio à preservação de um património único. Por outro lado, diz ter descoberto restaurantes de luxo que em tempos foram tabernas, ou estabelecimentos de tradição reformulados por gente jovem que conseguiu recriar o espírito e a ambiência das antigas tabernas.
Seja como for, pretendia comprovar a ideia de que é possível tomar uma boa refeição por um preço simpático ainda que, alguns dos locais retratados – sobretudo no que ao Fado diz respeito – tenham preços que, de amigável, nem sombra.
Dividido por regiões – Entre-Douro-e-Minho, Trás-os-Montes, Beiras, Estremadura, Alentejo, Algarve e Ilhas -, o Guia apresenta cada um dos templos de gula como um cartão-de-visita, indicando-se a morada, o telefone, o horário de funcionamento e o dia de descanso – para quem tem esse luxo. É também apresentado o preço médio de uma refeição por pessoa e há um espaço em branco para que o leitor possa escrever a sua classificação depois da peregrinação.
Para lá de fotografias que capturam, sobretudo, ambientes e pessoas, o Guia – graficamente muito bem conseguido – oferece histórias, recupera memórias, relata conversas e, claro, descreve o que se come em cada sítio, fazendo uma radiografia gastronómica de pratos e petiscos. Depois da leitura, torna-se imperioso avançar para um rally das tascas de vidros abertos e um fado corrido a rebentar nas colunas.
Sem Comentários