Dois homens, distinguíveis apenas pelas cores das tangas – rosa e azul -, olham-se demoradamente nos olhos, mantendo alguma distância. É este o ponto de partida para “O Vencedor” (bruaá, 2019), um livro que dispensa palavras mas não a cor, com ilustrações vibrantes que desmontam, com muita piada e algum e saudável exagero, o ridículo do abuso de poder entre iguais – ou, dito de outra forma, o espírito de quem anda armado aos cucos.
A certa altura, um dos homens vira costas e volta caminhando de forma diferente, usando um chapéu alto, um bigode farfalhudo e uma bengala. O outro, surpreso, coça o queixo por alguns instantes, vira as costas e regressa trajado como se fosse o comandante de uma legião, pronto a ir para a frente de batalha com uma bandeira colorida, um sabre de tamanho considerável e um chapéu muito estiloso.
Ao virar de cada página pressente-se o duelo iminente, que quando chega irá envolver estranhas bicicletas, animais exóticos e uma sede de poder e protagonismo que, justiça poética lhe seja feita, só poderia mesmo acabar mal.
Kjell Arne Sörensen Ringi (1936-2010) foi um artista sueco, cujo trabalho atravessou as áreas da pintura, ilustração, design gráfico e escultura. Tornou-se um mestre no detalhe, com as suas características figuras mínimas, e sumptuoso no grande, com as suas magníficas e esculturais catedrais e arranha-céus que lutam contra o céu. As suas pinturas estão representadas em cerca de trinta museus internacionais, como o Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque, o Instituto de Arte de Chicago, a Biblioteca Nacional de Paris, o Museu Ludwig em Colónia, o Museu Olímpico de Lausanne ou o Museu Staatliche em Berlim. Depois de passar longos períodos em Nova Iorque, onde teve grande sucesso com as suas pinturas, criou entre 1967 e 1974 sete álbuns ilustrados para algumas das maiores editoras norte-americanas, caso de “O Estranho”, seleccionado como um dos melhores livros ilustrados de 1968 pelo Junior Literary Guild – e incluído na nossa selecção de livros publicados em Portugal no ano de 2018.
Sem Comentários