Licenciou-se em História, fez uma pós-graduação em Ciências da Educação e, durante alguns anos, foi professora de História do Ensino Básico e Secundário. Mais tarde desenvolveu um projecto de História da Arte direcionado aos mais novos, tendo nos últimos tempos dedicado o seu tempo apenas à escrita. O que, a fazer fé em “Os Fios” (Casa das Letras, 2018), terá sido a mais acertada das decisões.
“Mas quem sabe de tudo são os velhos mais velhos. E eles não dizem quase nada”. Encontramos estas palavras logo nas primeiras páginas do romance de estreia de Sandra Catarino, que puxa pelos fios de uma memória colectiva para contar “a história da grande chuva”, recuando até uma noite de lobos em que todos rezavam a Santa Bárbara, e que coincidiu com a chegada à aldeia chamada Fundo do Lugar de um estrangeiro italiano e da sua pequena filha, Madalena.
A história é-nos servida por três mulheres em tudo distintas: Antónia, uma viúva que tricota camisolas e mantas, e que foi o porto de abrigo a Madalena depois de esta aterrar que nem um ovni numa aldeia pouco dada a mudanças, sejam elas grandes ou pequenas; Violeta, a parteira de serviço em quem todos depositam a confiança, e que vai guardando muitos segredos em gavetas impenetráveis – Ajudando a trazer ao mundo a solitária Celeste; e Emília, uma vidente a quem a morte visita em sonhos, mostrando-lhe que caminhos deverá evitar.
Casamentos arranjados, o papel submisso da mulher, a obrigatoriedade do luto, o gosto pela coscuvilhice, mas também as memórias de infância, as recordações de um amor extinto ou a alegria do reencontro, num livro que, com muito lirismo e uma prosa imaculada a fazer lembrar os clássicos mais felizes, retrata um mundo rural cruel e a sua aversão à diferença. Que estreia esta.
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