Isabel Nery é jornalista, licenciada em Relações Internacionais e com mestrado em Comunicação. Jornalista na revista Visão, coordena um núcleo de Jornalismo e Literatura no Clepul, centro de investigação da Faculdade de Letras. O seu trabalho foi já distinguido com vários prémios, entre eles o Prémio Mulher Reportagem Maria Lamas, o Prémio Jornalismo pela Tolerância, o Prémio Paridade Mulheres e Homens na Comunicação Social e o Prémio Jornalismo e Integração, da UNESCO. Já publicou dois livros: “Chorei de Véspera” e” Tudo por uma Boa História”.
“Sophia” (A Esfera dos Livros, 2019) é o título do seu novo livro, uma biografia de Sophia de Mello Breyner Andresen publicada no ano em que se assinala o centenário do seu nascimento. Esperada com grande expectativa, a leitura desta biografia está marcada por uma profunda e aturada investigação geográfica, deixando ao leitor a fruição demorada e visual dos locais preferidos de Sophia (na Grécia – Atenas, Cabo Sunion, Delfos, Patras, Naufplio e Corinto, onde vemos as paisagens e a civilização Helénica pelos olhos e sentidos da poeta) mas, também, dos lugares dos seus antepassados (Oevenum, então território da Dinamarca, hoje da Alemanha) e das casas (a casa Andreson, no Porto ou a casa na Travessa das Mónicas, em Lisboa) onde morou.
A biografia da primeira portuguesa a receber o Prémio Camões (1999) – e a única mulher escritora com honras de Panteão Nacional – é feita com a autora a percorrer lugares que fizeram parte da história de vida de Sophia (o Porto, a Grécia, o Algarve), e que resultou em cerca de sessenta entrevistas, que vão do pescador José Muchacho ao amigo Manuel Alegre, do ensaísta Eduardo Lourenço a companheiros das letras, família, tradutores e investigadores. A autora faz, também, uma incursão na vida política de Sophia, que foi Deputada na Assembleia Constituinte e a primeira mulher Presidente de uma Comissão – a Comissão para a Redacção do Preâmbulo da Constituição da República Portuguesa.
“‘Sophia”, apresentada e encarada como figura maior da literatura portuguesa, de poesia luminosa, de grande domínio da palavra, de contos infantis que marcaram e marcam gerações, mas também A Poeta que pendurou palavras nas pontas das espingardas (após o 25 de Abril) para chamar ‘velho abutre’ ao ditador, uma fervorosa defensora de um país mais culto, mais justo, mais livre: “Vemos, ouvimos e lemos/ não podemos ignorar”.
A profunda investigação e curiosidade de Isabel Nery faz com que o leitor fique a conhecer bem os meandros do quente período político do Pós 25 de Abril, quando a poeta (nessa inequívoca qualidade cultural) foi deputada na Assembleia Constituinte, mostrando-nos uma pessoa destemida e desassombrada, mesmo naquele meio.
O resultado do aturado trabalho parece, a espaços, algo redundante durante a leitura. Este aspecto, aliado a uma por vezes excessiva dispersão do foco, sugere ao leitor a necessidade de encher páginas de abundantes e fidedignas descrições dos tempos e personalidades políticas (entre elas o marido, Francisco Sousa Tavares, ou amigas como Graça Morais, Agustina Bessa Luís ou Maria Barroso que se cruzaram com Sophia), na falta de matéria para explorar o lado mais íntimo da pessoa particular, excêntrica e inigualável que foi a poeta.
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