A dois dias da realização das Eleições para o Parlamento Europeu, o Deus Me Livro publica a entrevista que fez ao Jovem Conservador de Direita durante a edição deste ano do Livros a Oeste. Uma conversa muito esclarecedora, onde se falou do betismo como condição essencial para se ser um bom direitista, se escolheu a dedo quem deve ser carregado ao colo até Bruxelas e se conseguiu perdoar ao Dr. Nuno Melo por ter sido apanhado a colher couves. Há também dicas muito úteis, para que um jovem conservador de direita, privado de uma boa mesada ou já sem pratas de família para vender, consiga ainda assim decorar uma casa com estilo, ou evite ter de passar pela indignidade de levar a lancheira para o trabalho.
Direita que é direita deve ser betinha? E vestir sempre uma camisa bem passada ou um daqueles polos de marca?
Isso é uma pergunta? Claro que sim! Antes de uma pessoa ter sucesso deve parecer que o tem. E a melhor forma de o fazer é usar fato, gravata e uma camisa bem passada. Quando estamos de férias não podemos vestir-nos que nem uns animais, portanto usamos um polo. Ou fato e gravata na mesma, até para fazer desporto. As pessoas não precisam de usar roupa de treino, por amor de deus, mais uma vez não somos animais. Ter um fato…de treino também é importante. Deus criou-nos todos nus para que pudéssemos usar roupa e manifestar aquilo que somos. Basicamente, quando vestimos roupa de sucesso estamos a transmitir ao mundo que temos sucesso – mesmo sem o ter. Mas é meio caminho andado para vir a tê-lo mais tarde. Se nos bairros sociais se usa boné, no distrito financeiro usa-se fato. Ponto. Até para nos distinguirmos.
Sim, uma vez que o pessoal de esquerda parece ser um pouco mais difícil caracterizar, algures entre aquele espírito hippie de quem vai ao Avante, faz rastas, fuma umas cenas maradas e toma banho de quando a quando, e aquela esquerda caviar que atira bitaites do conforto dos seus T5 nas grandes metrópoles. Como se consegue conviver com esta gente sem descer de nível?
Essas pessoas da esquerda caviar são, geralmente, vítimas de direitofobia. São pessoas que, nos tempos de escola, eram de direita e tinham sucesso, e que foram vítimas de bullying por causa dos seus ideais. O que foi um drama, um preconceito contra pessoas de direita, que acabaram por apanhar a síndrome de Estocolmo em relação a pessoas de esquerda: elas próprias estão convencidas de que são de esquerda. E não há nada mais dramático do que isto: pessoas que são ridicularizadas por acreditarem que o mercado livre é o principal motor da sociedade. Mas atenção. Tenho todo o gosto em, por exemplo, se a Dra. Marisa Matias estiver disposta a isso, torná-la uma senhora de respeito. Se ela se quiser candidatar e ser minha esposa terei todo o gosto. Poderá deixar de fazer aquelas viagens para Bruxelas, coitada, deve ser cansativo, e sempre pode ficar lá em casa a passar umas camisas. Essa ideia de que existem mulheres de esquerda é um mito. Não, o que há é mulheres que ainda não encontraram um homem que as coloque a pensar da maneira certa.
Depois desta resposta, talvez aquilo que ia lançar a seguir tenha sido já respondido: quem é que nestas Europeias gostaria de levar ao colo para levantar Portugal?
Sim, eu levava ao colo a Dra. Marisa Matias. Mas também o Dr. André Ventura. Estamos em Peniche, há por aqui alguns penhascos, e gostava muito de o levar até eles ao colo. Agora, convém também levar ao colo o Dr. Nuno Melo. Estamos a falar de um homem muito simples e que às vezes tem de ser carregado para sítios. Por exemplo, ele faltou muito ao Parlamento Europeu. Se queremos que ele compareça lá mais vezes temos de o levar ao colo, para saber o sítio do Parlamento. Mesmo nos seus cartazes, colocou como slogan “Europa”, que é para saber onde fica o sítio onde trabalha. Funciona como uma espécie de GPS para ele. O meu sonho era ser um gigante, uma espécie de Dr. Hodor Oder do Game of Thrones, e andar com um marsupial para poder levar o Dr. Nuno Melo para todo o lado. Gostava de poder ter essa capacidade física, infelizmente não consigo. Podia tentar na mesma, mas iríamos parecer uma espécie de paraquedistas.
Por falar em Europeias, sei que o Dr. as anda a explicar muito bem em vídeos educacionais, que se fôssemos nós a mandar seriam de visionamento obrigatório nas escolas e tudo o que é repartição pública.
Sim, estão a bater todos os recordes no youtube.
Num parágrafo, poderia explicar aos leitores do Deus Me Livro porque deverão ir votar daqui a uns dias?
É precisamente o contrário. Estou a fazer vídeos das europeias para as pessoas não irem votar. Aquilo que estou a explicar muito direitinho é como funciona toda a estrutura europeia, quais são os temas que vão ser debatidos nos próximos quatro anos mas, acima de tudo, explicar às pessoas que não precisam de ir votar porque os nossos eurodeputados não estão a fazer lá nada. Quando com a austeridade transferimos a nossa soberania para a Alemanha, foi com alguma razão: foi para que os deputados alemães decidam por nós – eles sabem o que é melhor para nós, como se provou durante os anos da Troika. Depois há um problema muito grande, que tem a ver com a ascensão do populismo por toda a Europa, o que acontece por haver demasiadas pessoas a votar. Elas têm o seu direito, podem ir votar, mas não deviam. Acho que quanto menos pessoas votarem, pessoas genéricas, mais espaço se abre para aquelas que, de facto, devem decidir as eleições, que são aquelas que vão às urnas em carrinhas do PSD.
Qual é o plano secreto – ou não secreto – para desmontar esta Geringonça?
O plano secreto é deixá-la implodir. O que eventualmente irá acontecer, já vamos em quatro anos, ou seja, tem cerca de quatro meses para implodir. Mas poderá ir até aos seis anos, como o governo do Engº Sócrates, que foi um governo e meio. Nós da direita sabemos que o Engenheiro Sócrates levou o país à bancarrota e, de certa forma, provocou a crise mundial. Toda a gente sabe isso, mas ele é, também, indirectamente responsável pela salvação de Portugal. Se não tivesse levado o país à bancarrota, nunca poderíamos ter tido a ascensão do Dr. Pedro Passos Coelho como salvador nacional. Ele e eu, porque fui praticamente eu sozinho que apliquei a austeridade em Portugal. No fundo, quem vai deitar abaixo a Geringonça será a própria Geringonça, através da bancarrota que vai provocar. Um pouco da mesma forma que o Dr. Voldemort foi o responsável pelo aparecimento do Dr. Harry Potter, eu serei o próximo Dr. Harry Potter. Só estou à espera que me carimbem um raio na testa, com o símbolo do euro, para poder salvar Portugal.
Com Rui Rio no comando, não bate por vezes aquela saudade do Dr. Passos?
Batem sempre saudades do Dr. Passos. Isso é garantido. Agora nós precisamos de… normalmente é como se diz nas relações: se vivemos um grande amor, temos de ter uma espécie de período de nojo para poder viver outro grande amor. Não podemos saltar de grande amor em grande amor. O PSD não conseguiria viver se passasse do Dr. Passos Coelho para mim. Portanto temos de ter alguns líderes menores, como o Dr. Rui Rio. De certa forma pusemos alguém que é muito bom a matemática mas que tem o cabelo igual ao do Dr. Santana Lopes. E assim conseguimos, digamos, tornar o PSD medíocre, para depois preparar uma vaga de fundo que me pedirá para liderar o PSD, nem sequer vou a eleições. O PSD é que se vai candidatar a mim. Quando vir que não há outra hipótese de recuperar o poder, quando já o Dr. Rui Rio tiver provado que é um líder medíocre, eu apareço para salvar o partido e o país.
Felizmente ainda temos Nuno Melo e Assunção Cristas, que presumo serem, por esta altura, os seus amigos inseparáveis. Ainda consegue falar com o seu amigo Nuno Melo depois de o ter visto apanhar couves?
Ele será sempre meu amigo, atenção. O Dr. Nuno Melo é alguém que precisa de ajuda constante. Uma pessoa não abandona um filho só porque ele é disléxico, correcto? Portanto, o Dr. Nuno Melo, de certa forma, é o meu filho ideológico. Fui mentor dele, ajudei-o a ultrapassar muitas e muitas dificuldades, e nunca o irei abandonar. Para a direita, ele e a Dra. Assunção Cristas são funcionais. Porque são aquelas pessoas que, como não têm uma ideologia fixa, e também por não terem uma auto-estima muito grande – aí a falta de inteligência ajuda um bocado -, podem sempre dizer coisas contrárias, como se acreditassem nelas. Do género, a Dra. Assunção Cristas foi Ministra da Agricultura. De certa forma, foi responsável pela plantação de eucaliptos em Portugal. Algo que, como sabe, pode dar azo a haver mais incêndios – e a madeira mais barata. Quando está o governo contrário, ou seja, a Geringonça, e temos incêndios a alastrar no país, a Dra. Assunção Cristas tem legitimidade para acusar o governo desses próprios incêndios. Porquê? Porque não tem, digamos, ideologia. O que é bom para o PSD. Precisamos de um partido de direita que não tenha ideologia, que só saiba falar mal quando tem de falar da esquerda. Quanto a apanhar couves, fiquei indignado quando vi o Dr. Nuno Melo a descer a esse ponto, porque não pode valer tudo em campanha. E as pessoas precisam de ter respeito pela figura institucional de um eurodeputado, que não se pode colocar na situação de ouvir: “Ah, é preciso chegar a campanha para ir trabalhar!”. Não, ele deve fazer em campanha aquilo que fez durante o seu mandato de eurodeputado, que é não trabalhar. Ir muito à caça e, de vez em quando, ao Parlamento Europeu.
Sim. Desse ponto de vista, se a esquerdalha diz às crianças qualquer coisa como “Se não comeres a sopa vem aí o bicho-papão”, a direita corre o risco de dizer dizer “Se não comes a sopa, vais apanhar couves”.
Sim, exactamente. É que ainda por cima são couves, e ele é um defensor da caça e de assassinar a sua própria comida. E de repente está a colher couves como um recolector, e as pessoas irão dizer: “Afinal o Dr. Nuno Melo não é o macho-alfa que nós achávamos que era”. Se ele pegasse na caçadeira e mandasse uns tiros a couves, aí talvez se respeitasse. Até porque não se pode matar animais em televisão, hoje em dia o politicamente correcto não veria com bons olhos essa situação. Mas se o visse disparar contra umas couves aí eu aceitava. Colhê-las custou-me ver. Numa corrida final, se o Dr. Nuno Melo vir que está muito abaixo nas sondagens, provavelmente irá para uma mata matar três javalis, pegando depois nas suas cabeças para dizer: “É isto que eu vou fazer à Geringonça”. Precisará de uma campanha mais agressiva. Se estiver em muitas dificuldades, poderá ir ao Jardim Zoológico matar animais em vias de extinção,um gorila, um rinoceronte e um panda. As pessoas passarão logo a respeitá-lo.
Cavaco Silva já merecia uma estátua neste Portugal cheio de ingratidão, no Marquês ou nos Aliados?
Acho que deveria acontecer à porta do Palácio de Belém ou da sede do Novo Banco. Mas de forma a que não se pudesse abrir a porta. Seria uma boa homenagem ao Dr. Cavaco Silva, o último e verdadeiro Presidente da República que tivemos. Os próximos presidentes teriam de trepar pela estátua e entrar pela janela, para perceberem que para assumir aquele cargo só mesmo passando por cima do Dr. Cavaco Silva. O que é um legado muito pesado. E, enquanto a estátua não estiver pronta, o Dr. Cavaco, que agora tem tempo livre, poderá ir para lá em pessoa.
O que receitaria o Dr. a esquerdalhas como a Mariana Mortágua ou a Marisa Martins, que parecem estar sempre zangadas com o mundo – e que, provavelmente, sofrerão de direitofobia?
É a eterna questão: a esquerda culpa o mundo pelos seus próprios problemas. Já a direita culpa as pessoas pelos seus problemas. O mundo é perfeito: o sistema funciona, vivemos numa economia capitalista. Elas estão é descontentes com elas próprias, e têm de aprender que devem estar contentes. Normalmente essa é a função de um homem mas, como se vêem rodeadas de esquerdalhos, acabam por validar essas ideias e ter uma visão errada sobre o mundo, ficando destinadas a ser infelizes. Porque o mundo não vai mudar, elas só têm de o abraçar como ele é e serem felizes. Podem sempre abandonar o Bloco e tornar-se empreendedoras. Fazer como o Dr. Steve Jobs, que também era uma pessoa que estava descontente, e que sempre que ia telefonar naqueles telefones de disco dizia: “Isto não presta para nada, não tem uma única aplicação”. E assim inventou o telemóvel. Da mesma forma que o Dr. Bill Gates, quando estava a tocar piano, pensava: “Isto não dá para abrir mails”. E inventou o computador. As Doutoras Mariana Mortágua e Marisa Martins terão de aproveitar o mundo em que estão, mudando-se a elas próprias e não o mundo. Ou, então, poderão ser só mulheres de pleno direito: vão ao El Corte Inglès, fazem uns workshops de maquilhagem e percebem que há vida para além da ideologia de esquerda.
Por falar em ingratidão, como poderemos proteger o Dr. Berardo, esse ponta de lança do capitalismo, da indignação pública e de uma injusta perseguição montada pela justiça?
O Dr. Berardo está a cumprir uma função importantíssima na economia de mercado. As pessoas precisam de ter um vilão, alguém que represente tudo aquilo que está mal e que seja o para-raios das suas frustrações. E o Dr. Berardo desempenhou esse papel de forma exemplar na comissão de inquérito. Enquanto as pessoas estão indignadas com ele, a exigir que devolva aquilo que não é dele – porque ele não tem nada -, a exigir que dê dinheiro que não tem, tudo o resto continua a funcionar como deve. Espero que o Dr. Berardo possa continuar a usufruir da vida que construiu com o seu próprio mérito, e que não se veja forçado à situação indigna de ter de morar num T5. Porque uma coisa é alguém que nunca teve nada, por exemplo, alguém que pediu um empréstimo para comprar um andar num subúrbio, digamos em Sacavém, perder a casa e ficar sem-abrigo. A diferença não é muita, nem sequer vai notar. Agora o Dr. Berardo, que está habituado a viver em palacetes históricos, ver-se de repente obrigado a fazer um downgrade para um T5, sem garagem num condomínio com piscina, é indigno e de uma crueldade sem nome. E logo uma pessoa que fez tanto pelas Artes, que é outra coisa que a esquerda não lhe perdoa. Sem os Drs. Berardos deste mundo não haveria arte. A arte do Rensacimento surgiu assim. O Dr. Leonardo Da Vinci nunca teria pintado se não tivesse tido um mecenas que lhe pagasse a sua arte.
De que cor mandaria pintar as passadeiras de Ourém?
Como mecenas das artes, contrataria artistas de rua, como o Dr. Vhils, para esburacar uma passadeira, algo que é uma tradição portuguesa. Mas com a cara do Dr. Berardo ou do Dr. Ricardo Salgado, que serviriam de sacos de boxe do capitalismo. As pessoas às vezes precisam disto: como não conseguem resolver os seus problemas transferem a culpa para outros. E, entretanto, estragavam os seus amortecedores, provavelmente até furavam uns pneus, e dinamizávamos também a indústria automóvel. Ficavam todos a ganhar.
Que dicas pode oferecer a um jovem conservador de direita que ande a passar mal de finanças e queira evitar essa infâmia de levar a lancheira para o trabalho?
Primeiro, passar fome. Porque se uma pessoa tem de passar pela indignidade de usar o micro-ondas do trabalho, onde os estagiários aquecem o bacalhau com natas que trouxeram de casa da mãe num recipiente de plástico, mais vale não comer. Há limites para a dignidade. Mas se estiver com dificuldades de dinheiro, e se não conseguir vingar no mundo empresarial, há sempre hipótese de tentar ajudar a sociedade com a sua competência inscrevendo-se num partido.
E como decorar uma casa quando as pratas da família já se foram?
Foi para esse tipo de situações de emergência social que se criou o estilo minimalista de decoração. Hoje em dia é possível viver num ambiente de luxo sem nada. Um dia, abrirei as portas de minha casa à revista Caras e poderão ver que não tenho absolutamente lá nada, nem uma cama. É um apartamento amplo, completamente branco. Quando vou a casa, passar duas horas entre cada jornada de trabalho, estou lá de pé, num canto, à espera que o tempo passe. Concentrado naquilo que vou fazer a seguir.
O que sentiu quando o big brother Zuckerberg decidiu fechar a torneira e fez desaparecer a sua página facebook, que neste momento tem já do seu lado mais de 70 mil jovens e velhos conservadores de direita?
Foi provavelmente um dos maiores ataques à liberdade de expressão desde o 11 de Setembro. De certa forma, o fecho da minha página foi muito pior, nesta medida: é que no 11 de Setembro as pessoas não ficaram a saber das consequências porque faleceram, e neste caso tivemos “n” pessoas que deixaram de ter acesso a uma página e que ficaram desorientadas enquanto vivas. Felizmente, essas pessoas não se perderam para sempre porque a página foi recuperada. Mas vivemos um período de cerca de uma semana negra onde se colocou a hipótese de a minha página desaparecer para sempre – e, com isso, a esperança de um país.
O que é que um jovem conservador de direita faz num festival literário, e logo numa terra que se diverte a brincar aos dinossauros? Foi só uma desculpa para provar a aguardente já lendária ou há aqui um plano mais alargado para moldar mentes?
Vim ao festival literário cumprir a minha função social, que é dizer a verdade às pessoas que vêm a festivais literários: eles não valem a pena. Porque a literatura deixou de fazer sentido a partir do momento em que inventaram o filme. E o filme deixou de fazer sentido a partir do momento em que inventaram a Internet. E por aí fora. Mas fiz questão de vir à Lourinhã prestar o meu tributo fúnebre aos dinossauros, uma espécie que dominou a vida na Terra como eu domino neste momento, e que desapareceu para que nós nos possamos locomover de automóvel. Não sei se sabe mas o petróleo são dinossauros. Sempre que vai à bomba de gasolina encher o depósito, está a depositar os restos mortais de um pequeno velociraptor que morreu para que nós nos locomovêssemos. E, hoje em dia, com o ataque que a esquerda tem feito à economia, através da promoção da economia verde e do alarmismo das alterações climáticas, esquece-se que pior que o mundo acabar é dizer aos nossos amigos dinossauros: “Nós não queremos continuar a desenterrar-vos debaixo da terra sob a forma líquida para fazer andar os nosso carros. Vamos desrespeitar a vossa memória, o vosso legado, e arranjar outras formas de produção de energia que são mais limpas”. Não, eles morreram por nós, pelo capitalismo, e devemos continuar a honrá-los. Vim aqui à Lourinhã, onde os espíritos deles pairam, onde se sentem os fantasmas deles e uma energia muito especial destes pequenos seres, dizer que optar por energias renováveis é desrespeitar a herança dos dinossauros.
Por falar em papel impresso, o que é que um tipo de direita gosta de ler? Que mestres moldaram tão prodigiosa mente?
Gosto muito dos livros da Dra. Agatha Christie, porque são livros que não precisamos de ler inteiros. Basta ler a última página, que é onde ela revela quem matou quem. Também gosto de ler livros que têm prefácios, sobretudo aqueles muito intelectuais onde uma pessoa, para demonstrar que é inteligente, conta a história toda do livro que se segue. Portanto, quando leio o prefácio, já não preciso de ler o livro – como aconteceu com a Ilíada e a Odisseia traduzidas pelo Dr. Frederico Lourenço. Mas os meus grandes mestres literários são livros que eu obviamente não li, mas em relação aos quais aprecio o processo de produção. Por exemplo, não leio os livros do Dr. José Rodrigues dos Santos – porque tenho um QI acima de 50 – mas sou capaz de reconhecer o trabalho e o mérito da sua obra, que é a produção contínua de volumes bastante grandes de papel preenchido com letras. Continua a vender e é, provavelmente, o autor português com maior sucesso, e eu aprecio um empreendedor que é um operário das letras em part-time. Porque não é alguém que decidiu ser escritor de profissão, procurar inspiração e escrever um grande romance. Não, ele viu o que é que havia de bom lá fora, replicou em português, e não abandonou o seu trabalho porque necessita dele até para poder vender livros, mantendo um processo de produção contínua através da sua equipa de escritores fantasmas, operários paquistaneses que estão numa fábrica a produzir capítulos para os seus livros 24/24 horas. Depois do Dr. Gil Vicente e do Dr. Camões, é ele o nosso grande mestre da literatura. Sem dúvida.
Para terminar: quando o poderemos ver à cabeça de uma lista para a Presidência, o Governo ou a Junta de Freguesia de Ourém?
Em breve, talvez ver-me-á como futuro Primeiro-Ministro. Mas também em part-time, porque neste momento governar Portugal não exige muito. Sou capaz de tirar três horas de manhã para governar Portugal e continuar o meu trabalho na Goldman, ao lado do Dr. Durão Barroso. Depois como Comissário ou Presidente da União Europeia e, quem sabe um dia, Imperador do mundo.
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Fotos gentilmente cedidas pelo Município da Lourinhã.
O Deus Me Livro esteve na Lourinhã a convite do Município da Lourinhã, organizador do festival literário Livros a Oeste – com o programador João Morales.
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