“Há muito, muito tempo,
quando os dragões ainda não existiam,
os homens, as mulheres e as crianças da China
caçavam, pescavam e viviam em tribos
sob a protecção dos espíritos benfeitores…”
Estes são os primeiros versos de “O Nascimento do Dragão” (Kalandraka, 2019), um livro escrito e desenhado a seis mãos, que transporta o leitor para o imaginário e a cultura chinesa, onde os dragões estão muito longe de corresponder à apropriação fantástica levada a cabo por europeus e americanos, que fazem desta uma criatura assombrosa e propensa a actos violentos.
Nos tempos ancestrais em que decorre a história, cada homem e mulher escolhia o seu espírito benfeitor com base nos animais com que vivia desde sempre: os pescadores escolheram o peixe, os habitantes das montanhas o pássaro.
Porém, com o passar do tempo, as diferenças entre os animais protectores acabou por se estender à vida comum, com guerras a rebentar um pouco em todo o país entre diferentes facções. Fartas de tanto conflito, as crianças chegam-se à frente, fazendo com que seja possível devolver a harmonia e o discernimento ao confuso mundo dos adultos.
A edição chega às livrarias numa versão bilingue – em português e em chinês -, misturando literatura com veia poética, o espanto da caligrafia chinesa e ilustrações coloridas com traço vigoroso. Para o final está reservado um desdobrável onde se explica a técnica dos ideogramas e da escrita chinesa, bem como glossários técnicos para a praticar – bom como a sugestão de um jogo de memória. Uma bonita história que retrata a origem de uma criatura mítica tão fundamental para a cultura chinesa. Que venham mais livros desta latitude, apetece dizer.
Wang Fei cresceu na China onde aprendeu os segredos da caligrafia. Segundo ele, “o presente vem do passado e do futuro”, dedicando-se a procurar “o caminho entre os dois“; Marie Seller, jornalista, gosta de falar de arte e de outras coisas às crianças. Imaginou e escreveu inúmeros livros cujas obras de arte fazem sonhar e viajar; Catherine Louis, ilustradora, descobriu a China e, partir daí, nunca mais foi a mesma. Apesar de residir na Suíça, uma ponta do seu coração escolher morar no longínquo país dos dragões.
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