Maude Julien é, nos dias de hoje, uma respeitada terapeuta, especialista em ajudar todos aqueles que têm de enfrentar traumas e sequelas resultantes de formas de aprisionamento. Se pensarmos que Maude enfrentou, ela própria, uma situação extrema de maus tratos físicos e, sobretudo, psicológicos, percebemos estar na presença de uma sobrevivente que, para além de ter conseguido escapar ao absoluto terror, conseguiu a epifania de transformar o seu medo na salvação de outros.
“Por trás das grades” (Guerra & Paz, 2015) conta, na primeira pessoa, a história de Maude, filha de Louis Didier, que «iniciado na maçonaria esotérica adere a uma visão espiritual, extremamente negra, de um mundo decadente dominado por forças obscuras.»
Basta passar os olhos pela introdução do livro para perceber o tipo de pai que Maude teve. Jeaninne, a sua mãe, foi adoptada aos cinco anos por Louis em 1936, momento em que este começou a conceber o seu maquiavélico plano, desenhado a régua e esquadro e cumprido em 1960 quando nasceu Maude – filha de Louis e Naninne. Aos 59 anos Louis decide liquidar todos os seus negócios, comprar uma propriedade num lugar semi-remoto e retirar-se para lá para fazer de Maude um super-ser.
Maude nunca irá à escola. Será a sua mãe, que a considera culpada por viverem em isolamento, a ensinar-lhe, depois de ter conseguido um número considerável de diplomas. Será apenas aos dezoito anos que Maude conseguirá abandonar a prisão da sua falsa infância, escapando às garras do seu pai com a ajuda da música e a memória dos animais que a ajudaram a manter a sanidade.
A história é contada por Maude, que adapta as entradas textuais, quase como fragmentos de um diário, à idade que tinha no momento em que viveu os acontecimentos narrados no livro.“Por trás das grades” é um hino às capacidades humanas de se vingarem da vida e do destino, um tributo à coragem de alguém que conseguiu vencer o medo transformando-o numa substância que serve, agora, de conforto a outros. Uma biografia que é, também, um perturbador retrato do mal.
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