“As Três Finórias e Outras Histórias” (Asa, 2019) reúne cinco histórias que António Torrado foi publicando em diferentes livros ao longo dos anos, e que foram agora reunidas num só volume. Narrativas curtas, pertencentes à tradição oral portuguesa, às quais o autor acrescentou o seu cunho pessoal.
Numa escrita marcada pela oralidade, magia e ternura dos enredos, António Torrado encanta os leitores falando das pequenas e grandes coisas, mas essencialmente de pessoas, animais e o mundo, onde a igualdade, fraternidade e liberdade marcam muitas vezes presença. Não esquecendo, também, sentimentos como a nostalgia, a tristeza ou a perda, aguçando assim o espírito crítico do jovem leitor.
Na simplicidade de um contador de histórias, Torrado apresenta-nos à “viúva que tinha duas filhas. Chamava-se uma Fina e a outra Parafina. Ambas umas finórias, para não destoar da mãe, mais velhaca do que todas as raposas juntas“. Mãe e filhas, As Três Finórias, espertalhonas, que usam a boa-fé para despertar a confiança e enganar os outros, mas que não irão acabar bem.
A Bela Micaela e o Monstro da Pata Amarela apela ao imaginário popular da Bela e do Monstro, como podemos constatar na confissão do marido da jovem Micaela: “ – Transformei-me em homem para te cativar. Ninguém me queria tal como sou – disse o monstro ou dragão ou bruxo ou o que fosse”. António Torrado retira a carga dramática do conto, tornando-o mais lúdico, salpicando a escrita de ironia e humor.
A leitura do conto Donzela Que Vai à Guerra possibilita ao o jovem leitor brincar com a linguagem, respeitar o ritmo e apropriar-se da palavra poética:
«Já se apregoam as guerras
Entre a França e Aragão.
Para a «s guerras Dom Duardos
Já não tem disposição:
– Ai de mim, tão frouxo e velho
Que não posso brigar, não.
São sete as filhas que tenho
(…)
Sem nenhuma ser barão!…»
Ao lamento do velho pai, a filha mais velha reage: “ – Venham armas e cavalo. Que eu serei filho barão”. Assim, a donzela disfarça-se de filho varão e parte para a guerra. Como soldado, apaixona-se pelo seu capitão, e este por ela. Donzela e capitão travam as suas próprias batalhas, colocando à prova os seus princípios, sentimentos e desejos, num conto propício à reflexão sobre o ser e não ser, a aparência e a realidade.
A Tristeza da Princesa e o Coelho Vermelho é um conto de princesas mas, como todos sabem, “as histórias de princesas nunca acabam mal – disse a velha, sem que ninguém lhe pedisse, mirando os príncipes unidos num apertado abraço”.
Gustavo, o Estrejeitante Aprendiz “não sabia o que é que a palavra “ estrejeitante” queria dizer. Não sabia ele nem sabia eu, antes de ter ouvido esta história, que me calha agora a vez de contar”. Estão todos convidados a ler esta história para descobrir uma nova palavra. As ilustrações surgem como complemento do texto, facilitando a relação do leitor com os contos.
António Torrado nasceu em Lisboa, mas com raízes familiares na Beira Baixa. Poeta, ficcionista, dramaturgo, autor de obras de pedagogia é, por excelência, um contador de histórias. Foi jornalista, editor, professor, produtor principal e chefe do Departamento de Programas Infantis da RTP. A sua bibliografia regista actualmente mais de 120 títulos, onde sobressai a produção literária para crianças, contemplada em 1988 com o Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças. Os seus livros constam Lista de Honra do IBBY – Internacional Board on Books for Young People.
Maria João Lopes viveu aventuras muito especiais quando era pequena. Algumas aconteceram nas riquíssimas águas e natureza do continente africano, onde viveu durante três anos, e outras entre as páginas e as ilustrações dos seus livros preferidos. Gosta de pintar e de se perder entre as muitas cores das caixas de aguarelas e de criar pequenas bandas desenhadas.
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