Estamos perante a redenção de uma vida de (aparente) sucesso e (real) desvalor próprio e falta de auto-estima. Este será, numa frase-resumo, o tema do livro “A Grandeza das Coisas sem Nome” (A Esfera dos Livros, 2019) de Enrique Arce, um actor espanhol que, depois do sucesso da série televisiva La Casa de Papel, exibida pela Netflix, se estreia na literatura com uma história muito tocante, surpreendentemente honesta e emocionalmente desafiante.
Conta-se a história de Samuel Palacios (actor de teatro da Broadway, consagrado pela atribuição de um Tony Award), que vai a Madrid, a sua cidade natal, para o funeral da irmã mais velha – e que, nessa circunstância, reencontra o pai de quem nada sabia há mais de trinta anos, junto do qual tenta provar, pelo prémio recebido, que venceu na vida.
Enrique Arce percorre temas pesados de vidas muito difíceis, contadas na primeira pessoa e sempre no presente, através dos olhos de um adulto de 44 anos e de uma criança de 11 anos – ele próprio, o autor, trinta e três anos antes.
O livro fala da necessidade de se enfrentar o passado familiar, os seus segredos – porque em todas as famílias os há – e os traumas de infância, para que a transformação interior que se inicia em Samuel seja perceptível, de forma intimista, ao leitor. Samuel que se metamorfoseia interiormente ao ponto de alcançar a percepção do que é o essencial, começando a dar verdadeira atenção ao poder dos sentimentos – como o amor, a amizade ou o perdão – e interiorizando que, as vicissitudes e os erros, fazem parte integrante e estrutural do seu percurso pessoal. E, mais importante, que podemos sempre recomeçar a(s) nossa(s) vida(s) quando descobrimos a grandeza das coisas sem nome que o dinheiro não pode comprar.
“Há algo sábio em nos desprendermos da nossa individualidade, em renunciarmos a acumular rótulos para nos diferenciarmos dos outros (…).Há algo de libertador na ideia de não precisarmos de encontrar respostas por já não existirem perguntas, nem dúvidas, nem incertezas (…).”