O escritor Scott Turow foi um destacado Procurador do Ministério Público, tendo estado envolvido em diversos julgamentos de casos de corrupção ao mais alto nível. No entanto, o estrelato seria atingido como autor de um dos mais aclamados thrillers legais dos anos 80: “Presumível Inocente” (Bertrand, 2019), o seu primeiro livro, com edição no distante ano de 1987, que de imediato se tornou num bestseller explosivo.
Trinta e dois anos depois da primeira publicação, ninguém duvida de que foi este o livro que abriu o caminho para um género prolífico – o thriller legal -, que vai de John Grisham aos mais variados escritores de paperbacks de quiosque algarvio.
O livro começa com um cadáver. O corpo é o de Carolyn Polhemus, uma sensual e inteligente Procuradora, encontrada nua e amarrada no seu apartamento, vítima de uma selvagem violação – ou, talvez, de um arriscado jogo sexual que terá ido longe demais. Quando o narrador Rusty Sabich, colega e antigo amante de Carolyn, é encarregue de investigar o caso, rapidamente se apercebe de que todas as provas apontam para ele.
Será pelos olhos do meditabundo Rusty que veremos o mundo do crime e as manigâncias da política e da justiça. Turow elaborou um excitante policial, conseguindo caracterizar magistralmente as personagens e dando-lhes uma densidade invulgar neste tipo de livro. Foca, com grande sensibilidade, as questões éticas complexas e moralmente ambíguas que atormentam os protagonistas.
Há aqui uma fascinante galeria de figuras secundárias, desenhadas com mão firme: a taciturna esposa de Rusty, um poço de ressentimentos variados; o patrão Raymond Horgan, político dos sete costados, com alguns segredos obscuros no passado; o carismático e elegante advogado de defesa Sandy Stern, mestre da eloquência; e alguns outros, todos eles compondo uma trama urdida com o calculismo e lábia de um grande advogado.
Turow cria uma eficaz atmosfera de suspense, e as cenas passadas em tribunal são fabulosas, fascinantes construções de escrita, que agarram o leitor pelos colarinhos. O livro consegue manter-nos às aranhas para descobrir a verdade até às páginas finais, nas quais as últimas peças do puzzle se encaixam meticulosamente. Uma obra-prima da cultura pop.
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