“O Poço e a Estrada” (Contraponto, 2019), de Isabel Rio Novo, é o primeiro livro da colecção Biografias de Grandes Figuras da Cultura Portuguesa Contemporânea, lançada pela Contraponto, uma chancela do Grupo BertrandCírculo.
A autora, ficcionista com obra publicada e doutorada em Literatura Comparada, narra de forma fluente a vida de Agustina através de uma pesquisa aturada e muito rigorosa, baseada em dezenas de entrevistas, mais de uma centena de documentos jornalísticos, entrevistas, documentários, registos oficiais e textos epistolares trocados entre Agustina e outras individualidades.
Para contar esta história de vida, Isabel estabelece constantes, empáticas, subtis e pertinentes “pontes” com toda a obra literária da biografada, reconstituindo de forma admirável (denotando contenção emocional, rigor histórico e cronológico e respeito profundo por Agustina e sua família) o percurso de vida de uma figura ímpar das nossas belas-letras e cultura contemporâneas.
Esta é uma biografia que pode ser lida como um verdadeiro romance, cuja leitura prazerosa se desenvolve na busca do entendimento da vida e da personalidade de uma escritora considerada, por muitos, enigmática. Isto porque, nas palavras da autora em recente entrevista, “retirada do olhar público (….) por decisão da família”, acrescentando também: “Se pretendia construir uma biografia pautada pelo respeito e por um certo pudor, a sua situação era mais um bom motivo para o fazer”.
Um livro escrito com arte e sensibilidade, onde perpassa a indelével marca da admiração da narradora pela inteligência e argúcia da biografada e pela sua vasta obra (muito bem estudada e analisada), com quem a autora privou apenas por duas vezes, em 2003 e 2004.
O título surge do romance de Agustina “O Manto”, como se de uma metáfora se tratasse, reflectindo o percurso de vida e de escrita da biografada – uma vez que, nesse romance, existe um personagem que consegue vislumbrar o seu futuro ao olhar para dentro de um poço.
Juntando as cerca de 100 páginas de notas que surgem no final – com pistas para quem quiser saber mais sobre as fontes, notas essas que se constituem praticamente como um segundo livro -, estamos perante uma obra muito bem gizada, que se tornará, decerto, numa das melhores biografias de Agustina.
“A vida de Agustina não cabe nos limites cronológicos do seu nascimento e da sua morte. Tem de indagar-se no futuro da sua obra“.
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