Nos últimos meses, seja através de paus de giz ou de corpos encontrados sem cabeça, temos assistido à exaltação de alguns thrillers como a the next big thing, ainda que depois de “Em Parte Incerta”, bem como de todos os livros de Gillian Flynn, seja difícil acreditar em tal coisa.
Neste universo que cruza o thriller com o policial, há um livro por aí a circular que, não tendo tido o mesmo destaque que outros seus parceiros de temática – ou mesmo de editora ou chancela -, se apresenta como uma das mais cativantes leituras para quem gosta de andar às voltas a tentar deslindar uma trama bem desenhada, vendo-se sujeito a inesperadas cambalhotas e viagens a bordo de uma montanha-russa com consecutivos loops.
Escrito por Soren Sveistrup, o guionista e criador da série The Killing, “O Homem das Castanhas” (Suma de Letras, 2019) é um romance viciante, um daqueles livros que muito prometem a meio e que, ainda assim, conseguem exceder-se momentos antes de irem parar à prateleira.
Estamos num muito tranquilo subúrbio de Copenhaga, lugar onde a polícia local faz uma descoberta macabra: no recreio de um colégio, uma jovem é encontrada brutalmente assassinada sem uma das suas mãos. Por cima dela, pendurado de forma discreta, está um pequeno boneco feito de castanhas.
O caso é entregue a Naia Thulin, uma ambiciosa e jovem detective, que terá como imposto assistente Mark Hess, um investigador que acabou de ser expulso da Europol e que ninguém quer ter por perto. Será Hess, porém, a descobrir a primeira pista sobre o homem das castanhas, nome com que os media decidiram baptizar este assassino: existem evidências que o ligam a uma menina que desapareceu um ano antes e que foi declarada morta – a filha da ministra Rosa Hartung.
O suposto culpado é um jovem que sofre de uma doença mental, e que desde então tem estado atrás das grades. Quando uma segunda mulher é encontrada morta, tendo por companhia um pequeno boneco feito de castanhas, Thulin e Hess suspeitam que há uma relação entre estas mortes e o caso Hartung, o difícil será encontrar forma de o provar – sobretudo quando o acesso aos Hartung é tão difícil como era arrancar uma palavra ou uma entrevista ao ex-presidente Cavaco Silva.
Depois de ler isto, é certo poderá começar a olhar com alguma desconfiança se alguém lhe servir lombinhos de porco com castanhas ao jantar, mesmo que regado com um tinto a preceito. A verdade é que esta fulgurante mistura de thriller, policial e drama vale bem a pena correr o risco de emagrecer a ementa.
2 Commentários
Grata pela partilha da opinião do Homem das Castanhas, de Soren Sveistrup, pois será umas das minhas próximas leituras que aguarda pacientemente na estante. Pelo que entendi também é grande apreciador deste género de leitura, pelo que, “atrevo-me” a deixar uma sugestão que terminei de ler recentemente e revela grande qualidade na construção da história e das personagens. Trata-se da estreia literária da italiana Ilaria Tuti, “Flores sobre o Inferno”. Está muito bem escrito e parece-me que “passou um pouco ao lado” do género publicado por cá.
Vera Alves
Obrigado pela partilha Vera, iremos investigar 😉