“Astonishing X-Men” está, para os Marvelianos X-Men, um pouco como a intervenção de choque da RTP esteve para a versão moderna do Festival da Canção. Depois de nos anos 1990 este gangue de mutantes se ter começado a parecer com uma companhia de circo, onde uma parte considerável dos seus membros só lá estavam para fazer número e confundir a imaginação de quem os seguia, eis que entra em cena Grant Morrison com The New X-Men, a que se seguiu mais tarde The Astonishing X-Men, com argumento de Joss Whedon e arte de John Cassaday, que manteve a mesma linha que Bryan Singer utilizou na sua adaptação ao grande ecrã: “limitar o número de heróis, e juntar um grupo com personalidades carismáticas e complexas” – do prefácio de Marcin Andrys (com José de Freitas). Uma série que passou a ter um núcleo duro de respeito: Ciclope, Wolverine, Emma Frost, Lince Negra e Fera.
O primeiro livro, servido mais uma vez em capa dura à boa moda da G. Floy, reúne os dois primeiros arcos – #1-12 na publicação original -, “Gifted” e “Dangerous” – “Sobredotados” e “Perigosa” na tradução portuguesa -, com desenhos que transmitem, de forma sublime, os sentimentos predominantes de ansiedade e superação que dominam estas páginas, habitadas por cores saturadas sacadas com muito estilo por Laura Martin.
A história situa-se após a destruição de Genosha, a ilha-refúgio dos mutantes. O Professor Xavier abandonou o Instituto, deixando Ciclope a tomar conta de miúdos e graúdos. Kitty Pride regressa a casa depois de perder Colossus, que se sacrificou para salvar os mutantes do vírus Legado.
Após a morte de Jean Grey, Ciclope mantém uma relação com Emma Frost, a antiga vilã mutante do Clube do Inferno – e agora uma aparentemente respeitável professora no Instituto Xavier. Instituto onde Kitty ensina Teoria Informática Avançada e actua, em paralelo, como conselheira de estudantes e assessora da administração.
Contrariamente à facção mutante mais radical, para quem os paninhos quentes são uma parvoíce, Frost defende uma abordagem mais pacífica, ainda que possa usar máscara: “Eles sempre nos odiarão. Controlo e não-violência são essenciais. Devemos provar que somos pacíficos. Que somos respeitadores, tolerantes e compreensivos com os humanos normais. E nunca confundir isso com confiança“. Frost que, apesar de ter conquistado o coração de Ciclope, está longe de ter caído nas boas graças dos restantes X-Men.
Noutro lugar, a geneticista Kavita Rao fala do gene mutante como uma doença, prometendo uma cura para breve. Por trás deste empreendimento está Ord, do Planeta Ruptura, que mais parece um primo afastado do Duende Verde. Uma situação que, se virmos bem, soa a prenúncio da Guerra Civil que a Marvel levaria a cabo anos mais tarde, ainda que por motivos diferentes.
E, se os nossos X-Men ou, pelo menos, quase todos eles, olham para esta cura de nariz torcido, há já centenas de mutantes que fazem fila à porta do laboratório da geneticista para receberem a cura.
Com uma guerra intergaláctica iminente, os X-Men terão de colocar a desconfiança de lado e regressar a Genosha, lugar onde um sentinela selvagem matou 16 milhões de mutantes em menos de uma hora. No que toca a reedições no universo dos super-heróis, esta é sem dúvida uma daquelas obrigatórias. A edição do segundo volume está para muito breve.
Sem Comentários