Há histórias que resistem ao passar dos anos, intemporais. Histórias que nos ensinam a partilhar, que habitam o nosso coração durante toda uma vida. Histórias que são censuradas pelo Estado, em tempo de ditadura, por terem uma carga cultural, emocional e política muito forte. “Histórias da Maria dos olhos grandes e do Zé Pimpão” (The Poets and Dragons Society, 2019) é uma delas.
Canuto Jorge Glória escreveu e ilustrou “Histórias da Maria dos olhos grandes e do Zé Pimpão” – nesta nova edição as ilustrações são de Rita Correia, ilustradora que temos seguido de perto aqui no Deus Me Livro -, cujo texto foi lido pela primeira vez no dia da criança de 1972, na Rádio Renascença pela voz de Raul Solnado.
O autor conta-nos a amizade de Maria e Zé Pimpão que, de uma forma poética e ingénua, relata a vida de duas crianças de mundos diferentes. A história continua a encantar pequenos, graúdos e crescidos, porque todos acreditamos na amizade, desejamos um mundo melhor e queremos que todos tenham as mesmas oportunidades.
A história começa por nos apresentar a Maria dos olhos grandes, que “tinha uns olhos grandes grandes que pareciam azeitonas”, e o seu amigo Zé Pimpão, que era:
“muito giro muito vivo
moço da rua e da gente
era um amigo a valer”
A Maria vive do lado do mundo mais bonito, com jardim, flores e prédios altos. O Zé Pimpão vive no lado triste, onde as casas são mais que modestas, pobres, muito pobres, e onde os brinquedos são pedras.
“ Zé Pimpão levou Maria
ver o mundo muito longe
Zé Pimpão levou Maria
ver os dois lados do mundo“
Quando Maria conhece o outro lado do mundo fica triste. Afinal, “julgava que o mundo era só o seu jardim”. Da tristeza nasceu um sonho e lançou o desafio ao seu amigo:
“Zé Pimpão vamos fazer
que haja um só lado do mundo
ou só o lado de cá
ou só o lado de lá”
Será possível haver um mundo onde todos sejam iguais? Uma utopia onde:
“ se não há jardins para todos
Vou dividir os canteiros
Se os canteiros não chegarem
uma flor para cada um
e se as flores forem poucas
há pétalas
enfim há cheiro
mas todos terão igual”
“Histórias da Maria dos olhos grandes e do Zé Pimpão” é um livro de sonhos. De esperança. De utopias. Chegados às últimas palavras, acreditamos que o mundo poderá ser um lugar melhor para todos: basta querer.
Canuto Jorge Glória nasceu em Lisboa no ano de 1939. Estudou economia e, em 1962, partiu para Paris e dedicou-se ao teatro. Viveu na Costa do Marfim, Lisboa e actualmente vive em São Paulo.
Rita Correia nasceu em 1977, formou-se em Pintura pela Faculdade de belas Artes de Lisboa e, desde 1999, espalha a sua arte pelo mundo digital e editorial.
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