“Como podia uma pessoa esconder-se numa floresta sem folhas?”
Os tempos não estão fáceis para FitzCavalaria, sobretudo após ter decidido afastar-se do mundo dos assassínios planeados a régua e esquadro e, também, de uma corte onde convém ter os ouvidos bem abertos. Depois da morte da mulher, o agora respeitável Tomé Texgugo tenta sem grande jeito tomar conta de uma filha que parece ter sido entregue por artes mágicas, mas um pedido de ajuda vindo dos confins do passado obriga-o a viajar para longe, deixando desprotegida a pequena Abelha que acaba por ser raptada.
“A Viagem do Assassino” (Saída de Emergência, 2018) é o quarto livro – em versão portuguesa, a publicação original corresponde a uma trilogia – da Saga Assassino e o Bobo, uma das melhores coisas que aconteceu ao universo da fantasia, numa história que se estende já por várias trilogias e duas décadas temporais. Robin Hobb, aliás, começa o livro com esta sentida dedicatória: “Ao Fitz e ao Bobo, os meus melhores amigos há mais de vinte anos”.
Julgando a filha morta, Fitz empreende com o Bobo, amigo de longa data que foi torturado de forma bárbara, uma viagem até um lugar maldito, fazendo da vingança o único caminho possível – ainda que, a espaços, a consciência pareça despertar: “Havia alturas em que ir vingar-me dos mortos parecia um preço demasiado elevado a pagar por abandonar os vivos”.
Abelha está porém viva, mesmo que os portais do tempo indiquem o contrário. Abelha que, agora, ouve o Pai-Lobo com maior frequência, incitando-a a esperar pelo melhor momento para lutar e escapar aos seus raptores, que a olham como a criança visionária que ameaça destruir o futuro perfeito que desenharam há anos.
Mas será o Bobo, vestido com um dos seus múltiplos disfarces, a estar em grande destaque neste quarto livro, convencendo um navio-vivo a assumir a sua verdadeira forma e a com eles viajar rumar a Cleres, lugar descrito por Vindeliar como “o coração do mundo”, procurando que os seus batimentos se tornem irregulares.
Por trás de um empreendimento vingativo, “A Viagem do Assassino” tece uma crítica subtil ao sistema mercantilista, olha a vingança como um alimento humano e mostra que há sempre lugares escondidos e inacessíveis em cada um. O quinto e último livro da série está a caminho das livrarias, antevendo-se uma difícil despedida a FitzCavalaria.
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