Não terá sido certamente por falta de imaginação, mas a verdade é que, vinte e cinco anos após a publicação de “O Homem de Ferro”, o poeta inglês Ted Hughes inventou uma sequela no feminino, a que decidiu chamar “A Mulher de Ferro” (Ponto de Fuga, 2018). E, se no primeiro livro caminhávamos entre arsenais nucleares e a ameaça da Guerra Fria, aqui trata-se de um tema que se mantém de todo actual: a industrialização desenfreada que esgota recursos naturais e ameaça os ecossistemas, incluindo o do Homem. Entre ambos, partilha-se um igual cenário de desolação e um mundo sempre ameaçado pela inconsciência humana.
“Era um longo e choroso grito, como a sirene de um carro de bombeiros”. A descrição é feita por Lucy, cuja curiosidade a leva a estar diante de “uma estátua de lata negra com a forma humana, verdadeiramente colossal”, que veio em apelo dos que choram a forma como a poluição despreocupada do homem está a dar cabo do mundo. A sua missão é clara, transmitida num verso mais rugido e grunhido do que cantado – e com ar de programação no limite do estado defeituoso:
“DESTRUIR OS QUE ENVENENAM.
OS IGNORANTES.
DESTRUIR OS QUE ENVENENAM.
OS IGNORANTES.
OS QUE POLUEM.
DESTRUIR.
OS QUE POLUEM.
DESTRUIR.”
É curioso perceber, entre cenários que assentariam na perfeição no mesmo universo literário de Oliver Twist, que a criminalidade ambiental permanece inalterada no pensamento humano, pensando sempre no imediato, no lucro e nunca a longo termo ou no bem comum:
“Quando chegaram ao canal, e olharam para baixo da ponte, Lucy sentiu-se culpada. Por qualquer razão, não havia água quase nenhuma, como ela nunca tinha visto. Uma grande e oleosa poça negra jazia entre ladeiras de lama cinzenta a secar. E no meio da lama estavam rodas de bicicleta enferrujadas, carrinhos de supermercado, cabeceiras de cama, carrinhos de bebé, frigoríficos velhos, máquinas de lavar, baterias de automóvel, dois uo três carros antigos até, juntamente com outras centenas de ferrugentas sobras e retorcidos restos, emaranhados de arame, latas e garrafas e sacos de plástico”.
Lucy pesa, na sua mente jovem, o progresso versus a sustentabilidade, pensando na fábrica do lixo, onde trabalha o seu pai e quase toda a gente, que duplicou de tamanho num único mês ao importar e “tratar” lixo de todo o mundo – e que está prestes a explodir. Decide então escrever uma carta de três páginas a Hogarth, o rapaz que tão bem soube lidar no passado com o Homem de Ferro, esperando que este a possa ajudar a refrear a Mulher de Ferro e a sua ânsia de destruição.
Tristemente actual, “A Mulher de Ferro” exige que, aos sustos ambientais diários com que somos confrontados todos os dias, se siga uma “grande, profunda mudança”. Um livro que deveria ser de leitura obrigatória para aqueles – muitos – que governam pedaços do mundo.
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