Escritos e compilados entre Maio e Dezembro de 2016, estes poemas são perspicazes com o jogo da vida e dos sentimentos, incidindo sobre aspectos do pensamento quotidiano (e maravilhado) das questões existenciais mais importantes com que se depara o ser humano.
Em “Os dias assim” (Naucatrineta,2018), Fernando Couto Ribeiro traz-nos uma forma de escrever e pensar os poemas prenha de significados e vivências íntimas, mantendo, na maior parte deles, algumas palavras escritas entre parêntesis, nas quais se explica e se situa em cada poema, e que ajudam o leitor a compreender a profundidade e intencionalidade dos seus versos.
Outra nota importante a realçar é a de que o autor apresenta definições poéticas bem sintetizadas, como por exemplo nos poemas criança (espanto que descobre/muita cor à vista/nas vidas cinzentas/que carregam os dias seguidos), saudade (nem o longe é ausência/nem o perto é presença/são muitas/ as unidades/ para medir a distância), contradição (grande parte das certezas que temos/são incertezas/que não foram postas à prova), amanhã (os sonhos/são homens loucos/que se julgam imortais/ou mesmo deuses criadores/de uma contra realidade/absolutamente necessária/para sobreviver a esta), ou humanidade ( um gesto de gentileza/entregue numa mão estendida/pode ser o princípio da paz/ não chega o sorriso/é preciso o toque da pele/a ausência de milagre).
Destaque para festa, um dos melhores poemas deste livro.
“é preciso ter coragem para comemorar
as grandes vitórias e as pequenas vitórias
e
por vezes
comemorar apenas
o estar aqui
assumir cada momento de alegria
enfrentar cada momento de tristeza
agarrar todas as desculpas possíveis para sorrir
as que existem
as que se inventam
e aquelas que nos oferecem por amor
são raras as coisas boas
e é preciso celebrar cada uma delas
com carinho
com alegria
com respeito
guardar cada uma delas
na memória do coração
e usar cada uma delas
como força obreira da vida
é urgente celebrar a grandeza de estar aqui
é urgente celebrar a humildade de estar aqui
é urgente estar aqui
e deixar um lugar
aqui
para os que vierem depois”
Um livro de poemas que (re)lembra a força do quotidiano e o maravilhar adulto, convidando a reler e a saborear cada palavra.
Sem Comentários