Se tivesse tido – e não é líquido que não as tenha frequentado – aulas de preparação para o parto durante uma das vezes em que carregou dentro de si um bebé, muito provavelmente Fernanda Fonseca Silva não terá feito muitas amigas para a vida, daquelas que nos convidam para beber chá ou ir às compras. Basta dizer que, entre várias máximas, Filipa terá expressado coisas como «amamentar é uma seca» ou «férias com crianças não são férias», o que não ajuda lá muito na construção de uma figura com uma idílica pose maternal.
Segundo a autora de “Coisas que uma mãe descobre (e de que ninguém fala)” (Bertrand Editora, 2015), o seu fascínio pela maternidade terá começado desde tenra idade, quando punha o despertador para as quatro da manhã para simular que os nenucos acordavam num pranto exigindo um biberão. Já com 12 anos de idade, Filipa terá revisto na sua irmã um nenuco de verdade, acompanhando o seu crescimento de muito perto durante a adolescência e a entrada na idade adulta. Talvez por isso não tenha tido grande pressa de engravidar após o casamento, aproveitando a “vida a 2” antes de abraçar a profissão de mãe, «um “trabalho” duro e não remunerado».
Na introdução ao livro, Filipa trata de desenganar aqueles que andam à procura de um manual de gravidez ou da verdade maternal absoluta: «A todas digo que isto não é um trabalho científico, nem tem qualquer base pedagógica. Não são verdades universais, nem conselhos paternalistas. São apenas experiências que quis partilhar. Dividido em duas partes – gravidez e maternidade -“Coisas que uma mãe descobre (e de que ninguém fala)” usa e abusa do humor, do sarcasmo e da ironia, num livro onde o leitor e a leitora se poderão rever e rever outros em muitas situações.
Na primeira parte, dedicada à gravidez, Filipa aponta este período como o maior pesadelo para uma fashion victim, chama cabras às hormonas, elege o top 10 das coisas boas e más e, cereja em cima do bolo, tira um raio-x aos diferentes tipos de grávida: a brávida, a mártir, a enciclopédica, a GI Jane, a grávida desde que nasceu, a hippie e a chorona, todas personalidades normalmente independentes do seu estado natural pré-gravidez.
Em “Da maternidade”, a segunda parte do livro, surgem desejos, lamentações, conselhos e máximas, aconselhando-se a ausência de grandes planos de acção, defendendo-se que a amamentação não é para toda a gente e, nova cereja, listando-se os vários tipos de mãe: aleijada, aluada, descontraída, fashion, hipocondríaca, hippie, vai com as outras e mãezilla. Independentemente do tipo de mãe assumido, há uma máxima comum a todas elas: “maltratarás o teu marido”.
A acompanhar as crónicas de Filipa Fonseca Silva descobrimos as ilustrações de Sofia Silva, num livro que convida a leitora a transformá-lo numa adenda aos álbuns de bebé guardados lá em casa: há sítios para colar fotografias e muitos espaços para a escrita de notas de rodapé.
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