É um dos livros maiores de Neil Gaiman, que chega ao universo da banda desenhada com uma muito bem conseguida adaptação. “Deuses Americanos 1: Sombras” (Saída de Emergência, 2018) conta a história de Shadow, um tipo com cara de “não se metam comigo”, que passou três anos na prisão a manter-se em forma, a aprender truques com moedas e a pensar na mulher que amava, contando os dias até ao reencontro de ambos. Até lá ia fazendo listas de todas as coisas que faria quando recuperasse a liberdade, não conseguindo libertar-se da ideia de que algo de mau estava para acontecer, algo que acaba por se confirmar dois dias antes da sua libertação, com o anúncio da morte da mulher.
É um homem derrotado aquele que abandona a prisão, envolto em estranhos sonhos onde está “na terra e debaixo da terra”, soprando-lhe ao ouvido mantras como “para sobreviveres, tens de acreditar”. Até que conhece o estranho Sr. Wednesday, que lhe oferece um trabalho como guarda-costas, lançando-o de cabeça para um mundo onde o mito e o real caminham de mãos dadas, habitado por fantasmas e escondendo uma guerra iminente entre deuses.
Visitado nos sonhos pela mulher, cujos beijos sabem a “cigarros e bílis”, Shadow conhecerá o “salão dos deuses cuja existência foi esquecida”, enquanto o leitor mergulha numa viagem temporal com paragens na América de 813 e 1721, onde entre humanos e indígenas dominam “Odin, Deus das Forcas, e Thor dos Trovões”. Uma viagem que levará o leitor a um estranho limbo, sentindo, a cada virar de página, o mesmo que o próprio Shadow: “Sinto que estou num mundo com lógica própria. Como quando sonhamos. Não sei do que falamos, o que aconteceu hoje ou qualquer coisa desde que saí da prisão. Apenas me deixo levar”. Que o leitor também se deixe levar por este mundo misterioso e sexual, onde a sátira e o horror são primos direitos.
Compilando os primeiros nove números da série de banda desenhada Deuses Americanos, este primeiro volume oferece ainda um caderno com esboços de personagens e capas sonhadas por David Mack, Glenn Fabry, Becky Cloonan, Skootie Young, Fábio Moon e Dave McKean.
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