Este ano, de entre as muitas páginas escritas em português em várias tonalidades e melodias diversas, escolhemos os nossos 20 livros preferidos de 2018.
20. “Sua Excelência de Corpo Presente” | Pepetela
Editora: D. Quixote
Uma leitura interessante, de um sarcasmo implacável, aos meandros políticos de um país que eternizou um ditador no poder, mas assiste agora às lutas para a sua sucessão, adivinhando-se ventos de mudança. (Ler crítica)
19. “O Paraíso são os Outros” | Valter Hugo Mãe (nova edição ilustrada)
Editora: Porto Editora
Sem muitas palavras, Valter Hugo consegue levar crianças e adultos a conviverem com a ética nas relações. E fá-lo através da voz de uma menina, da forma como ela capta, processa e transmite o que observa nas pessoas, mas entre os animais, completado com aquilo que a mãe lhe diz sobre o que é amar. A constatação de que os adultos vivem muito em casais. Que o fazem habitando corpos. Que constroem relações com base em valores e padrões. Que estão sempre ligados, mesmo quando separados. Acreditam. Crescem juntos. Desassossegam (-se). Descobrem (-se). Por vezes entristecem (-se). Recomeçam. Encontram no outro a solução. Têm urgências. Amam. (Ler crítica)
18. “Pão de Açúcar” | Afonso Reis Cabral
Editora: D. Quixote
Partindo de um acontecimento real ocorrido em 2006 no Porto, Afonso Cabral escreveu um romance a várias vozes, dando palavra a vítimas e agressores, num livro sobre o mal e a intolerância na adolescência. (Crítica em breve)
17. “Todos os dias são meus” | Ana Saragoça
Editora: Planeta
Empolgante, irónico, repleto de inteligência e humor, este é um livro para se ler de um só fôlego, não só pelas breves páginas mas, sobretudo, pela forma como a autora eximiamente articula a narrativa. Sem aviso prévio, assumimos o papel de polícias investigadores, em pleno interrogatório porta a porta a todos os moradores do prédio onde ocorreu o crime: uma jovem solitária assassinada no elevador. Mas tudo isto está subentendido, já que apenas lemos a voz do interrogado. O melhor de tudo? As vozes, apresentadas em jeito de retrato irónico da sociedade portuguesa, que tão facilmente reconhecemos. (Ler crítica)
16. “Um Amante do Porto” | Rita Ferro
Editora: D. Quixote
“Um amante no Porto” é um romance vibrante com um forte cunho de retrato da época contemporânea, escrito por uma protagonista feminina – e no feminino – e atravessado pelos maravilhosos detalhes psico-cómicos do seu pensamento: Zara, que tem um amante no Porto (Álvaro), um homem bastante enigmático no que concerne à sua vida afectiva e pessoal, desafiando-a (aliás, qualquer mulher) a tentar saber mais. (Ler crítica)
15. “Alguns Humanos” | Gustavo Pacheco
Editora: Tinta da China
A primeira vez que o leitor português terá ouvido falar de Gustavo Pacheco terá sido, muito provavelmente, no oitavo número da Granta portuguesa – dedicada ao Medo – com o conto “Ambystoma mexicanum ou o labirinto invisível”, que comprovava a velha máxima de que a dor – ou, em alternativa, a pobreza ou a dor de corno -, é o combustível de eleição para alimentar o motor da criatividade. Conto esse incluído agora em “Alguns Humanos” (Tinta da China, 2018), o primeiro livro do autor que reúne onze histórias marcadas por uma inquietação humana, na sua maior parte representada através de uma diversificada fauna animal. (Ler crítica)
14. “Ecologia” | Joana Bértholo
Editora: Caminho
Uma distopia made in Portugal onde Joana Bértholo, sob a forma de romance, faz uma espécie de escrutínio à sociedade moderna, onde a privatização acaba, a certa altura, por tomar conta também das palavras, fazendo do acto de falar um luxo a que muito boa gente não se pode dar. Inquietante, incómodo, actual. (Crítica em breve)
13. “A Febre das Almas Sensíveis” | Isabel Rio Novo
Título: D. Quixote
Com “Rio do Esquecimento”, livro finalista do Prémio LeYa e semi-finalista do Prémio Oceanos, Isabel Rio Novo mostrou uma apetência especial para fundir o registo histórico com o engenho ficcional. Um engenho que continua em alta em “A Febre das Almas Sensíveis”, também ele romance finalista do Prémio LeYa, um livro que recupera a memória de uma doença esquecida nos tempos modernos. Literariamente engenhoso e historicamente fascinante. (Ler crítica)
12. “O Pai da Menina Morta” | Tiago Ferro
Editora: Tinta da China
Um livro impiedoso, narrado por um pai que perdeu a filha de oito anos e que tenta “gozar sem culpa”. Culpa, horror, aversão, uma desolação interior com afluentes vários, de alguém que, por esta altura, já não está neste mundo, e que diz que irá reescrever este livro durante toda a sua vida. Inquietante, polémico, corajoso, uma autópsia de si mesmo feita de livro aberto. (Crítica em breve)
11. “Manobras de Guerrilha” | Bruno Vieira Amaral
Editora: Quetzal
É uma espécie de buffet livre literário. “Manobras de Guerrilha” (Quetzal, 2018) – com o sub-título Pugilistas, Pokémons e Génios -, o mais recente livro de Bruno Vieira Amaral, é uma colecção de 26 textos, produzidos para os mais diversos meios, nos quais o autor explora alguns dos seus fascínios e obsessões. (…) Acrescente-se então mais um epíteto a este talentoso escritor português: para além de romancista de excepção, Bruno Vieira Amaral veste-se aqui de cronista inquieto, um observador sagaz do mundo ao seu redor. E não lhe assenta nada mal o fato. (Ler crítica)
10. “Meu Velho Guerrilheiro” | Álvaro Filho
Editora: Gato Bravo
“Meu Velho Guerrilheiro” tem muitas facetas: biografia, romance, política e poesia caminham de mãos dadas neste livro. Abordam-se temas como a identidade e a memória, a cadência das gerações como se fossem marés, a liberdade como antídoto para a repressão, ou a firmeza de convicções como traço de carácter. Em tempos de Bolsonaro, “Meu Velho Guerrilheiro” é um livro indispensável. (Ler crítica)
9. “Obras Completas de Maria Judite Carvalho 1”
Editora: Minotauro
Foi um dos grandes acontecimentos literários de 2018 no que diz respeito à literatura portuguesa: o início da publicação das Obras Completas de Maria Judite de Carvalho, autora que, nos idos anos cinquenta, fez troça dos caprichos masculinos e desafiou uma moral vigente onde reinava a hipocrisia. Neste primeiro volume, intitulado “Tanta Gente, Mariana/As Palavras Poupadas” – correspondente às suas duas primeiras colectâneas de contos -, encontramos a solidão feminina, o desespero, o apelo do suicídio, o sofrimento, um retrato da condição feminina de então: “O que a vida já correu e elas sem a verem. Sem darem por nada. Ficaram sozinhas e não se dão conta”. Visceral. (Crítica em breve)
8.“Meridiano 28” | Joel Neto
Editora: Cultura Editora
Se o Reino da Literatura fosse algo semelhante a uma manta de retalhos, Joel Neto seria, sem qualquer dúvida, um dos seus tecelões mais requisitados, com encomendas que fariam com que as 24 horas do dia fossem curtas para tanto jogo de linhas, dedais e agulhas. Depois de “Arquipélago“, um dos mais notáveis romances que a literatura portuguesa viu nascer nos últimos anos, Joel Neto repete, em “Meridiano 28”, muitos dos processos do seu antecessor: uma galeria de personagens imensa, que obriga à construção de árvores genealógicas mentais ou a consultar as páginas iniciais, perto de uma lista telefónica impressa a preto e branco; uma escrita meticulosa, onde cada palavra arde em lume brando enquanto um som melancólico vai saindo de colunas imaginárias; viagens temporais entre presente e passado, que aos poucos vão montando, numa moldura antiga, o puzzle que apenas conseguimos vislumbrar à partida. (Ler crítica)
7. “Parem Todos os Relógios” | Nuno Amado
Editora: Oficina do Livro
Nuno Amado consegue recriar, em “Parem Todos os Relógios” (Oficina do Livro, 2018), um melodrama intenso e já pouco dado aos tempos de hoje, com muita fluidez e uma forma enovelada com que cruza ambas as histórias. Três, aliás, pois Francesca tem direito a pequenos pedaços só dela – fragmentados, é certo, mas que sabem cativar o leitor que, no final, gostaria de continuar a viajar por Itália na companhia de Francesca. (Ler crítica)
6. “Mãe, promete-me que lês” | Luís Osório
Editora: Guerra & Paz
Esta carta de Luís Osório a sua Mãe, dez anos após a sua morte, é uma história de um tempo ancorado, entre outros factores quase malditos, no desespero, na violência, na solidão, no abandono, no ciúme e na morte e onde, mesmo assim, a esperança na vida e no amor dos outros consegue emergir com renovada força. (Ler crítica)
5. “Por Amor à Língua” | Manuel Monteiro
Editora: Objectiva
Contra os lugares-comuns (porque as fronteiras são “ténues”), a sobre-adjectivação (que mar azul belíssimo neste dia quente e com um sol radioso), os anglicismos (que “performance espectacular”), os complicómetros (“a loja abre às cinco porque o dono o quer” por oposição a “a loja que abre a partir das cinco pelo facto de o dono assim o querer”) e a tantos outros erros e deselegâncias que apenas retiram poesia à língua portuguesa. Contra tudo, avance-se por amor à língua. (Ler Crítica)
4. “Florinhas de Soror Nada” | Luísa Costa Gomes
Editora: D. Quixote
Uma viagem sempre a caminho do fundo que, no final, regressa ao ponto de partida – à velhice que já é morte, aos filhos já sem tempo para cuidarem de perto, a uma zanga com o mundo que só encontra consolo num mantra: “Porque tudo sofre minha gente, tudo acaba por morrer“. Um romance curto, visceral e tremendamente agitador, da literatura como catarse e expiação. (Ler crítica)
3. “Jogos de Raiva” | Rodrigo Guedes de Carvalho
Editora: D. Quixote
“Jogos de Raiva” não foge ao universo crítico de Rodrigo Guedes de Carvalho que, tendo como pano de fundo o (des)encanto das redes sociais, traça um retrato a preto e branco da sociedade na sua era mais marcadamente moderna e tecnológica, onde o ódio conduz a um estado de guerra permanente que, a cada dia, se renova mudando de alvo, de causa, de mote para a indignação ou de tema de conversa. Um romance intenso, irónico e comovente. (Ler crítica)
2. “Eliete” | Dulce Maria Cardoso
Editora: Tinta da China
É dela o romance maior sobre os retornados – “O Retorno” -, e é dela também um dos grandes romances de 2018. “Eliete” é uma mulher de meia-idade numa crise existencial, que aqui irá recuperar o passado, pensar o presente e viver o futuro em estado alucinatório, entre o facebook e o Tinder. Uma radiografia de uma família, do mundo, da liberdade individual e do pensamento não revelado. E o melhor de tudo é que Eliete é apenas a primeira parte, esperando-se agora pela continuação do livro com a melhor frase de abertura do ano: “Eu sou eu e o Salazar que se foda”. (Crítica em breve)
1. “Ensina-me a Voar sobre os Telhados” | João Tordo
Editora: Companhia das Letras
No caso de existir um Mundial da Literatura, o seu nome faria certamente parte da convocatória, actuando quem sabe como guarda-redes, posição que mereceu, em filme de longa-duração, uma referência ligada à angústia. Falamos de João Tordo, um dos romancistas portugueses actualmente em melhor forma, que depois do triunfante tríptico dos Lugares Sem Nome decidiu viajar no tempo e, também, fazendo piscinas entre Lisboa e o Japão. Situado entre estas duas geografias, “Ensina-me a voar sobre os telhados” mantém todo o cerne existencialista que tem atravessado a sua escrita, ainda que o ar seja muito mais respirável e o humor esteja sempre à espreita, sobretudo através de Ludmila, alguém que nos faz ler para dentro com pronúncia. (Ler entrevista ao autor)
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