É, no mínimo, obra. Com “Um Cowboy em Paris” (Asa, 2018) estamos a falar do 80º(!) álbum publicado das aventuras de Lucky Luke, o cowboy que que consegue ser mais rápido do que a própria sombra.
Desta vez, Lucky Luke ficará incumbido de uma escolta monumental, que o irá obrigar a deixar o continente americano rumo a França e à cidade de Paris: Lady Liberty, uma estátua com 93 metros de altura – sim, é mesmo a Estátua da Liberdade.
Porém, antes dessa colossal tarefa, temos apenas Auguste Bartholdi a atravessar o deserto americano, enfrentando a fúria dos Cheyenne por este ter “profanado terras dos nossos antepassados com o seu totem”. Totem que, para Luke, parece ser a decoração de uma caravana de sorvetes. É então que Bartholdi lhe explica que se trata de uma amostra da “liberdade que ilumina o mundo”, e que se encontra em digressão pelo país com a sua mão e tocha tentando captar o interesse de investidores, para mais tarde trazer a peça completa para a América.
Não poderiam faltar os Irmãos Dalton, que aqui parecem começar a ficar fartos da sua triste sina: “Evasão, captura, evasão, captura… Não acham que isto se está a tornar um pouco repetitivo? É verdade, é incrível: como é possível que isto termine sempre da mesma maneira?”. Dalton que tentam escapar da Penitenciária de Cross Junction, presidida pelo director Locker, alguém que escreveu uma obra sobre os diferentes tipos de grades e vedações através dos tempos intitulada “50 Sombras de Grades”. E que quer, também, tomar conta da ilha que deverá acolher a estátua de Bartholdi, para no seu lugar construir uma gigantesca prisão.
Há, também, notas sobre política moderna, como quando ouvimos Luke dizer algo como isto: “Um dia, vai ser preciso construir um muro entre os dois países”. Ou, ainda, uma piada algo sarcástica sobre o facto de Luke ter sido obrigado a trocar o cigarro por uma palhinha entre os dentes: “Olhe lá, esta fotografia antiga! Aparece com um cigarro!”.
De Paris, Lucky tirará o retrato dos seus pintores, visitará a catedral de Notre Dame e ouvirá, ainda, poesia numa língua estranha, fazendo desta a primeira aventura fora da sua zona de conforto, trocando a aridez e a tranquilidade das pradarias do Oeste pela movimentada urbe parisiense. Um verdadeiro choque de culturas que, ainda assim, não mina a confiança – e o legado – deste cowboy com um muito castiço código de honra.
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