Não dizemos que foram os melhores, até porque houve muito bom livro que não chegou à nossa estante. De qualquer forma e entre aqueles em que pusemos a vista em cima, estes foram os nossos livros preferidos de 2018 no que toca a literatura traduzida.
20. “A Hora Mais Negra” | Anthony McCarten
Assente numa pesquisa minuciosa e exaustiva, “A Hora Mais Negra” é uma empreitada envolvente, um retrato colorido e realista que retira Churchill do pedestal para mostrar a faceta mais humana do político britânico – “uma amálgama de partes irreconciliáveis: exibicionista, fanfarrão, pretensioso, poeta, jornalista, historiador, aventureiro, melancólico e possivelmente alcoólico” -, um homem brilhante que conquistou um merecido lugar no lado certo da História. Se não fosse a coragem e determinação de Winston Churchill, a Europa em que vivemos seria hoje muito diferente, no pior sentido. (Ler crítica)
19. “Tudo é Possível” | Elizabeth Strout
Strout tem um dedo especial para ligar todas estas personagens numa geografia sentimental do lugar, feita sobretudo de perda, mas nunca deixando de contrapor, ao sofrimento, uma compaixão que já é de assinatura. (Ler crítica)
18. “LoveStar” |Andri Snær Magnason
“LoveStar” conflui numa crítica ao capitalismo, ao consumo desenfreado, a uma sociedade pobre em humanidade e incapaz de enfrentar o sistema, contribuindo para um mundo saturado de problemas morais e ambientais. Uma leitura que faz o leitor pôr em perspectiva o mundo contemporâneo em, ao jeito de algumas distopias clássicas, com a curiosidade de o livro ter sido publicado pela primeira vez em 2002, mantendo-se em tudo actual. (Ler crítica)
17. “A Trança” | Laetitia Colombani
É a dificuldade em ser mulher, mas também a resiliência feminina, que une estas três histórias. Em pleno século XXI, todas são afectadas pela condição de ser mulher. Os contextos, os motivos, as tradições, a sociedade, tudo factores que alteram muito cada história, mas não deixam de se unir na ainda tão presente segregação da mulher.(Ler crítica)
16. “A Ordem do Tempo” | Carlo Rovelli
Com o título sacado a uma expressão de Anaximandro, Carlo Rovelli – autor de “Sete Breves Lições de Física” – dá-nos uma aula que é qualquer coisa como Física para Totós, fazendo dele um Stephen Hawking com uma verve a que não é alheia alguma poesia. Se sempre foram curiosos sobre o tempo ou quiserem descobrir mais sobre ele, este é definitivamente um livro a ler. (Crítica em breve)
15. “Nix” | Nathan Hill
Um livro algo alucinado sobre auto-descoberta, crescimento fora de horas, segundas oportunidades e de arrancar o perdão a um lugar do corpo que desconhecíamos existir, e que coloca Nathan Hill no radar dos romancistas a ter em conta nos próximos anos. (Ler crítica)
14. “A Memória da Árvore” | Tina Vallès
Uma obra de grande sensibilidade e pureza, escrita de forma admirável, com cada capítulo dividido em pequenos textos, uma espécie de pequenos apontamentos grávidos de sentidos que emergem da simplicidade das pequenas coisas e gestos, sentimentos e recordações, e que, surpreendentemente, emergem de um pensamento infantil (doce e amargo, em simultâneo) nos regressos da escola com o avô, sobretudo quando o avô se esquece da quotidiana sanduíche do neto (“Primeiro será a memória…”, dirá este a Jan mais tarde com olhos de vidro). (Ler crítica)
13.“Como a Sombra que passa” | Antonio Muñoz Molina
A magnifica qualidade narrativa, o registo íntimo de grande maturidade, a memória comprometida entre a verdade e a ficção, a grande preocupação sobre os mistérios da vida, o conhecimento profundo sobre o carácter fugaz e fortuito do instante, desafia continuadamente as percepções do leitor da primeira à ultima página e, pasme-se, de uma forma inteiramente livre. Um livro que fica retido para sempre, pela sua força transformadora, pela inegável e manifesta qualidade, na memória de quem o lê. (Ler crítica)
12. “A Tempestade” | Marina Perezagua
A única sensação de familiaridade chega no conto Little Boy, em que somos remetidos para “Yoro”, o livro sensação da autora que conta a história de uma sobrevivente da bomba de Hiroshima. Nesta história conhecemos alguns pormenores da protagonista desse livro a partir do olhar de um terceiro, o que permite reviver e recordar a inquietação de alguém que, contra todas as probabilidades, sobrevive a um dos mais terríveis ataques da história recente. Carnal, grotesco e sem cerimónia. Assim é este livro de leitura obrigatória. (Ler crítica)
11. “Tu Não És Como as Outras Mães” | Angelika Schrobsdorff
“…um tributo à Mãe, aquela que é mulher, noiva, esposa, filha, trabalhadora. Aquela que se apaixona, que sofre de amores, que segue os seus sonhos. Aquela que tem dúvidas, que hesita e que não sabe como agir. Aquela que erra e segue em frente. Aquela que sorri e faz sorrir. Aquela que faz as crianças crescer. (Ler crítica)
10.“Pátria” | Fernando Aramburu
Condenando veemente o regime de terror imposto pela ETA, mostrando também que o sistema funcionava muito com o espírito de marioneta que aproveitava a efervescência de uma juventude em rebuliço – a instrumentalização dos cordeirinhos -, Aramburu não deixa de mostrar o outro lado da barricada, aqui pelas palavras do padre Serapio: “Aqui houve repressão, fizeram-se buscas domiciliárias por onde quiseram, prenderam inocentes e maltrataram-nos ou, para sermos mais exactos, torturaram-nos nos quartéis. Neste momento temos nove filhos da vila com penas de muitos anos na prisão. Eu não vou entrar em discussões sobre se merecem ou não o castigo. Não sou jurista, político também não, tão só um simples sacerdote que gostaria de contribuir para que as pessoas da terra vivessem em paz“. E é precisamente essa paz, esse perdão, que todas estas personagens, cada uma degladiando-se com os seus próprios fantasmas, tenta encontrar, mesmo que incompleta. (Ler crítica)
9. “Semente de Bruxa” | Margaret Atwood
A escrita de Margaret Atwood reveste-se do espírito setecentista Shakespeariano, juntando-lhe uma trama engenhosa e muitos sobressaltos humorísticos, numa viagem que é, toda ela, surpreendente. No final ficam 5 páginas onde se resume o plot de A Tempestade original, mostrando que Margaret Atwood conseguiu, com muita classe e imaginação, suplantar o mestre Shakespeare. Ou, pelo menos, prestar-lhe uma homenagem de todo o tamanho. Grande livro este. (Ler crítica)
8. A Minha Avó Pede Desculpa” | Fredrik Backman
“A Minha Avó Pede Desculpa” é uma história intensa, que prima por envolver imaginação, inteligência, aventura, amizade, esperança e perdão. Com grandes doses de sentido de humor, mas sobretudo de emoção, a narrativa vai com subtileza sendo pautada por lições de moral que nos mostram como o mundo mágico pode ser um refúgio, mas também esconder os mais importantes ensinamentos. Um livro que leva o leitor às lágrimas — face à dor e sofrimento de perder alguém que amamos —, mas que também o deixa com um sorriso no rosto, lembrando que esses permanecem para sempre connosco, no coração. Uma homenagem aos avós, comovente e enternecedora. (Ler crítica)
7. James Baldwin | “Se Esta Rua Falasse”
“…se não formos o preto de alguém, somos um mau preto: e foi isso que os polícias decidiram que o Fonny era quando se mudou pra a baixa”. Finalmente em Portugal, “Se esta rua falasse”, publicado pela primeira vez em 1974, é um romance-manifesto com a força e a melancolia de um tema blues, uma história comovente e dolorosa que serve de bandeira à literatura negra americana e de arremesso contra o racismo e todas as formas de injustiça. Um livro que nos suga como um buraco negro e que termina com um choro capaz de acordar os mortos. (Crítica em breve)
6. “Anoitecer no paraíso” | Lucia Berlin
Mais uma masterclass da arte de bem escrever servido por Lucia Berlin, uma escritora desaparecida e quase esquecida que começa agora a ser (re)descoberta. Alguém que descobriu no conto a sua casa e o lugar onde levou a literatura ao Olimpo da criação. Depois do magistral “Manual de limpeza para mulheres”, “Anoitecer no Paraíso” transporta-nos do Texas ao Chile, do México a Nova Iorque, lugares aos quais a escritora confere um olhar e uma beleza que passaria ao lado do comum mortal. Mais uma dose generosa de melancolia e reconfortante honestidade numa colectânea de contos que foi preparada pelo seu filho. Um tesouro de livro. (Crítica em breve)
5. “O Poder” | Naomi Alderman
Sempre com a religião como pano de fundo, “O Poder” oferece múltiplas leituras, sendo uma delas o facto de a essência humana, seja no masculino como no feminino, estar destinada à sede de poder e à vontade de domínio. Naomi não dá respostas definitivas à pergunta “Porque é que as pessoas procuram e abusam do poder?”, mas acaba por oferecer um retrato delirante sobre uma sociedade onde abundam as teorias da conspiração, as fake news quase não se distinguem das verdadeiras, a indignação deixou a rua para se refugiar nas redes sociais e o Photoshop vai servindo um pouco para tudo, desde apagar alguém da fotografia a tirar alguma celulite ou ruga indesejadas. A nossa, claro está. (Ler crítica)
4. “Aqui Estou” | Jonathan Safran Foer
“Aqui estou” é uma viagem intemporal à intimidade de uma família e de um povo, carregada de intenção, sensualidade e comoção, de vidas marcadas por sulcos profundos, vincos e pregas. Verdadeiros signos do tempo. (Ler crítica)
3. “Sou um Crime” | Trevor Noah
Estamos habituados a ler sobre assuntos sérios de forma séria, mas a forma como Trevor Noah desmonta o absurdo do racismo, sempre com uma piada na ponta da caneta enquanto nos conta a sua vida na África do Sul, é absolutamente extraordinária. Para lá de um enquadramento histórico dado com muito aprumo, Trevor – que nasceu da relação entre uma negra e um branco durante o Apartheid, algo punível com cinco anos de prisão – fala-nos das suas desventuras amorosas em tenra idade, da relação algo alucinada com a mãe, do grupo de amigos onde se incluía um dançarino chamado Hitler ou de como de aspirante a pirata se tornou, inesperadamente, num DJ que montava a festa onde houvesse espaço. Muito bom. (Crítica em breve)
2. “Um Gentleman em Moscovo” | Amor Towles
Neste romance sentimental, onde as transformações da Rússia são sentidas entre paredes, ecoam os contos de Tchékhov, folheiam-se os romances de Tolstoi, flutua o espírito musical de Tchaikovski, disseca-se a palavra camarada, servem-se iguarias sempre regadas com bons vinhos – sem rótulo e todos ao mesmo preço -, num livro que, a certa altura – e numa jogada de grande mestria -, promove uma viagem do narcisismo inconsciente ao altruísmo assumido. Um senhor livro. (Ler Crítica)
1. “Berta Ísla” | Javier Marias
Não será difícil imaginar que, se um dia tivesse estado na pele de Xerazade, Javier Marías acabaria por conseguir evitar a morte, trazendo para a oralidade todos os seus artifícios narrativos. História de um amor imperfeito, “Berta Ísla” viaja entre Londres e Madrid para nos contar a vida de Berta Isla e Tomás Nevison, uma vida atravessada por segredos onde o desaparecimento e a autodescoberta andam lado a lado, normalmente encontrados no silêncio do que nunca é dito. Um romance misterioso, apaixonado, inquietante, que desafia o leitor, onde quer que se encontre na linha temporal, a deixar para trás uma história que mereça ser contada. Magistral. (Crítica em breve)
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