É mais um volume essencial da bibliografia de Jorge Luis Borges, o 13º título que chega às livrarias com o selo da Quetzal inserido na série Jorge Luis Borges. Segundo Borges, “Atlas” (Quetzal, 2018) está longe de cumprir o título no sentido clássico do termo, pois “não consiste numa série de textos ilustrados por fotografias ou numa série de fotografias explicadas por uma epígrafe“. Trata-se, antes, de “um livro sabiamente caótico“, resultado de algumas das viagens que o escritor argentino fez na companhia de María Kodama.
São pouco mais de 100 páginas de pequenos/grandes apontamentos, muitos deles acompanhados de um registo fotográfico, que incluem diversos poemas, uma ode não histórica à Irlanda, lições de história, notas sobre sonhos e pesadelos, conversas sobre mantras e quase enigmas ou, a certa altura, a constatação bela e melancólica de Borges ser um eterno viajante entre livros.
“Releio o que escrevi e comprovo com uma espécie de agridoce melancolia que todas as coisas do mundo me levam a uma citação ou a um livro.”
Borges e Kodama percorrem Veneza, Atenas ou Genebra, regressando sempre à adorada Buenos Aires, num livro onde Borges, devoto da mitologia, a define desta forma sintética e poética, marcas inseparáveis da sua escrita: “A mitologia não é uma vaidade dos dicionários; é um eterno hábito das almas“.
A fechar somos ainda presenteados com um epílogo para a história, assinado com devoção por María Kodama; um atlas poético que, quando for cumprido, acabará no reencontro do toque. Mais um livro obrigatório, como são todos os que Borges escreveu.
“Agora estou aqui, forjando um tempo para lá do tempo onde você percorre as constelações e aprende a linguagem do universo, onde você já sabe que a poesia, o amor e a beleza são nesse lugar, pela sua intensidade, incandescentes. Entretanto eu percorro aplicadamente os dias, os países, as pessoas, cada instante que me aproximará de si, até que se cumpram todas essas coisas que são necessárias para que de novo se unam as nossas mãos. Quando isso acontecer, seremos outra vez Paolo e Francesca, Hengist e Horsa, Ulrica e Javier Otárola, Borges e María, Próspero e Ariel, definitivamente juntos, apenas luz para a eternidade.”
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