Há, de facto, nos dias de hoje, um espectro (leia-se espectro no sentido de uma verdadeira ameaça política) do populismo, enquanto doutrina ou prática politica que procura obter o apoio popular através da oferta de medidas que aparentam ser sempre favoráveis às massas.
O que caracteriza o populismo (os populismos)? Quais as vias para a sua interpretação cultural e política? Deve ou não ser combatido e, em caso afirmativo, porquê?
Ouvimos diariamente, nos espaços público, político e comunicacional (incluindo a primeira figura da Nação), que a explosão das forças “populistas” no mundo é extremamente nefasta do ponto de vista da salvaguarda da democracia e da participação cívica e política dos cidadãos.
“O Espectro dos Populismos” (Tinta da China, 2018), livro de ciência política e da história civilizacional, mundial e portuguesa, reúne nove magníficos ensaios políticos e historiográficos, debatendo e esclarecendo – sob a coordenação de Cecília Honório, investigadora Doutorada em História das Ideias Politicas – o próprio conceito subjacente ao(s) populismo(s); a relação deste(s) com as ideologias políticas de retórica neoconservadora; “o deslizamento semântico do populismo”, que tem uma polissemia conceptual própria mas que alguns, de forma estratégica e bem pensada, procuram associar o conceito “exclusivamente a cenários de desastre político e de instabilidade económica, além de o tentar reduzir a um fenómeno exclusivamente determinado por lideranças demagógicas ou corruptas”.
Chama-se a atenção para o espectro do fascismo e para os fenómenos dos nacionalismos e da importância das identidades nacionais, que nos interpelam enquanto indivíduos. Chama-se a atenção para o Brexit e para a crise na União Europeia (UE); para o fortalecimento da Frente Nacional, em França ou o UKIP, na Grã-Bretanha, e a perceção que estes movimentos transmitem face aos emigrantes com reacções de xenofobia e hostilidade face aos refugiados na EU. “Esse tipo de reacção opera pela redução das identificações múltiplas de todos os humanos – de classe, género, educação, religiosas, políticas, sexuais, etc. – a uma única, tida como determinante. Assim, nesta visão, quem venha de um país muçulmano é percepcionado e representado como um ser irremediavelmente preso a uma leitura messiânica violenta, ou seja, como um terrorista em potência”.
A obra é um contributo muito relevante para pensar e compreender o populismo e para o combate esclarecido de um conceito de difusão multifacetada e complexa (social – as migrações, o desemprego; mediática – a difusão de conceitos imprecisos para o debate público; política – a articulação do(s) populismo(s); tecnológica – o poder das redes sociais e do poder de radicalizar comportamentos).
E, por ser essencial compreender para o combater, os textos que nos obrigam a pensar seriamente este assunto são, por esta ordem, de Cecília Honório, Fernando Rosas, Luís Trindade, Manuel Loff, José Manuel Sobral, José Manuel Pureza, João Mineiro, Francisco Louçã e Boaventura de Sousa Santos.
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