“Se chove muito, chove torrencialmente. Se aconselhamos ou recomendamos com ênfase, aconselhamos e recomendamos vivamente. Se rejeitamos ou recusamos, rejeitamos e recusamos liminarmente. Mas, se afirmamos, afirmamos categoricamente ou peremptoriamente.”
Se temos dúvidas e frequentemente nos enganamos, devemos encarar essa realidade como normal e saudável. O erro ocorre quando sabemos que estamos em falta e não agimos. E, mesmo que saibamos, é sempre bom andarmos actualizados (e depois há a irritação quando lidamos com quem não saiba mas pensa que sim). É neste tom que Manuel Monteiro nos apresenta o seu novo livro. A favor da criatividade, da fluência e do bom português, o revisor e formador de revisores publica “Por Amor à Língua” (Objectiva, 2018), com o subtítulo Contra a linguagem que por aí circula.
Com centenas de exemplos, este livro é um verdadeiro manual que não apenas guiará o leitor (falante, escritor…), como o esclarecerá sobre as mais variadas questões gramaticais e ortográficas e relativas à construção frásica. Poderá pensar-se que é um livro dirigido apenas a quem trabalha a língua portuguesa, como escritores, editores ou revisores, mas não é o caso. É um guia indispensável para qualquer falante da língua, pois trata-se de uma ferramenta utilizada por cada um de nós diária e repetidamente, ainda que muitas vezes não se lhe dê a importância devida.
Contra os lugares-comuns (porque as fronteiras são “ténues”), a sobre-adjectivação (que mar azul belíssimo neste dia quente e com um sol radioso), os anglicismos (que “performance espectacular”), os complicómetros (“a loja abre às cinco porque o dono o quer” por oposição a “a loja que abre a partir das cinco pelo facto de o dono assim o querer”) e a tantos outros erros e deselegâncias que apenas retiram poesia à língua portuguesa. Contra tudo, avance-se por amor à língua.
E este trabalho exemplar não foge, como o leitor deve prever, à embirração com o acordo ortográfico: um dos primeiros exemplos que apresenta, e que deixo aos seguidores do Deus me Livro, é o seguinte: escreva num papel “corréu” e deu-o a ler à pessoa ao seu lado. Aliás, leia-o e tente decifrar a palavra. O que significa esta palavra?
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[…] Continuar a ler no Deus me Livro. […]
Co-réu