“Um dos problemas dos pioneiros que desbravavam as terras virgens do oeste americano era a ausência de mulheres”. Ou, dito de outra forma, “uma cidade sem mulheres é sempre sinónimo de desordem, de desleixo”. Sejam bem-vindos ao número 4 da série dedicada ao mais rápido cowboy do velho oeste, onde ficarão a conhecer, pasmem-se, “A Noiva de Lucky Luke” (Asa, 2018).
A verdade é que, neste másculo mundo do oeste, os homens são obrigados a fazer de tudo. Até as zaragatas parecem ter perdido o entusiasmo de antigamente, e ninguém quer ir para casa uma vez que não há lá ninguém à espera. Para além de mulheres, é difícil vislumbrar uma criança a brincar na rua, e já se sabe que uma cidade sem crianças está condenada à morte.
No leste, porém, “havia milhares de mulheres sem homens”, mas, na falta de um Tinder do Oeste ou mesmo de uma qualquer rede social, a solução passava por “atravessar em caravana todo um continente para encontrar a alma gémea” – ou, pelo menos, uma companhia para tornar os dias mais animados.
E será precisamente a leste que Lucky Luke irá ter, em mãos, uma missão que desejaria tanto abraçar como ficar sem tabaco durante uma semana: escoltar uma caravana de 15 mulheres e contribuir assim para a procriação da espécie. Mas não estará sozinho nesta difícil demanda, tendo como adjunto não escolhido Toussaint Charbonneau, cabeleireiro francês, aquilo que se poderia chamar de “eunuco do harém”.
Pouco tempo depois da partida, e ainda antes de enfrentarem os possíveis perigos da travessia, recebem um telegrama com uma curta missiva – “Assassino evadiu-se Prisão Saint Louis” -, que levanta a possibilidade muito forte de se ter escondido na caravana.
A certa altura e num diálogo com o seu cavalo-confidente, Luke rejeita a ideia de o casamento ser uma lotaria, uma vez que nesta sempre “há uma hipótese de ganhar”. Mas a verdade é que, quis o destino, Luke acaba por se ver noivo de uma das raparigas que ficou sem par, o que fará com que os Dalton vejam nela uma possível moeda de troca ou uma forma de poderem chantagear o seu velho rival.
Não deixa de haver um toque machista, provavelmente à moda do velho oeste, seja na forma como Lucky a certa altura fala em “manada de mulheres”, quando se goza com ter mulheres ao volante (ou, neste caso, nas rédeas) ou, ainda, rindo com a estranha atracção destas por peles de animais. Mas sosseguem os leitores mais inflamados com as questões de género e de igualdade pois, lá mais para diante, também se lê isto: “Talvez não o escrevam nos livros, mas eu acho que sem as mulheres não teria havido conquista do Oeste”. Mais uma grande aventura do cowboy para quem o casamento não passa de uma corda ao pescoço, desenhada por Morris e com argumento de G. Vidal – publicada originalmente no ano de 1985.
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