É, no que toca às edições com o selo Disney que chegaram às bancas em 2018, muito provavelmente o acontecimento maior. Com a assinatura de Marco Gervasio, a colecção “Os Fabulosos Feitos de Fantomius” (Goody, 2018) apresenta ao leitor algumas das mais incríveis histórias do Ladrão Cavalheiro, mais conhecido por Fantomius, que nasceu a partir das aventuras do Superpato – e que Gervasio tão bem desenvolveu como o seu antecessor.
O primeiro volume de uma colecção que será composta por cinco reúne as primeiros quatro histórias de Fantomius que, de acordo com o autor, foram as mais importantes e as mais difíceis, isto porque deviam “dar a conhecer Fantomius aos leitores, os seus parceiros e adversários, mostrar o mundo em que se move, o ambiente aristocrático e sofisticado dos anos 1920, com as recorrentes citações de personagem da época (literárias ou reais)“.
O homem por detrás da máscara e do fato de Fantomius dá pelo nome de Lorde Quackett, que “liberta o cavalheiro da paixão imposta pela sua etiqueta“, impondo desta forma “a sua vingança contra a sociedade que despreza“. De acordo com o universo criado por Marco Gervasio, será o diário de Fantomius que, mais tarde, dará origem ao Superpato.
Cada uma das histórias é precedida de uma pequena introdução, onde Lorde Quackett inventa o seu pouco jeito para o desporto, acabando por distrair a gente rica, lançar uma cortina de fumo e encontrar uma missão que lhe encha as medidas.
“O Monte Rosa”, a história de abertura, apresenta-nos a Dolly Paprika, a “tenebrosa namorada” de Fantomius, surgindo em cena também Copérnico, o inventor de serviço. Quanto ao diamante Monte Rosa é, segundo o Barão Megarricus, “a oitava maravilha do mundo“, mas parece que alguém se antecipou a Fantomius, que sente que está em jogo a sua honra de ladrão. É também aqui que iremos travar amizade com o Comissário Pinko, alguém pouco dado à esperteza e que, pressente-se, vai tardar a meter Fantomius atrás das grades.
Em “A Evasão de Fantomius”, a fasquia não poderia estar mais alta: Fantomius revela a sua identidade, vai preso por vontade própria para poder empreender uma fuga à moda de Houdini e envia um cartão todo pipi a um Duque, avisando-o muito educadamente de que irá roubar as suas jóias compradas “com o dinheiro que roubou a pobres e necessitados“, mostrando uma costela aparentada a Robin dos Bosques – ainda que o dinheiro, neste caso, não acabe necessariamente nos bolsos dos necessitados. Uma trama que cruza a adrenalina dos filmes Missão Impossível com a argúcia de Agatha Christie, introduzindo Fantomius na arte da manipulação e do engano.
“Fantomius a Bordo” faz-nos entrar em modo cruzeiro para conhecermos uma condessa ricaça e extremamente embirrante, a quem Fantomius decide roubar o valioso colar. Uma vez mais alguém se antecipa, pondo à prova o espírito detectivesco de Fantomius, que irá resolver o mistério bem mais facilmente que o leitor, perdido com uma lista de suspeitos que mais parece a das compras de supermercado.
A fechar temos “Brutfagor”, a antiga divindade do engano exposta no Louvre, sobre a qual paira uma espécie de lenda: “Diz-se que a estátua de Brutfagor esconde um fabuloso tesouro e que o seu espírito vagueia pelo museu para o achar“. Nesta história, o lado da lei surge representado por, pasmem-se, Hercule Poirot, que depois de ser ludibriado por Fantomius promete ir a Patópolis para o capturar. A caça está aberta e promete ser um festim.
Para além das introduções desportivas e da entrevista a Marco Gervasio, há neste primeiro volume diversos esboços com explicações, numa edição de grande formato que chega num papel e cores que remetem para os anos 1920. Para guardar na estante de honra dedicada aos livros aos quadradinhos, juntamente com os restantes quatro livros da colecção (todos já publicados e dos quais falaremos nas próximas semanas).
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