Meg Wolitzer é autora de uma vasta obra de ficção e não-ficção aclamada pela crítica, que a catapultou para um dos lugares cimeiros dos autores da literatura americana contemporânea.
“A Persuasão Feminina” (Teorema, 2018) fala da história de uma jovem brilhante, inteligente e intelectualmente muito inquieta (Greer), que se vê relegada, injustamente, para uma universidade de segunda linha, enquanto o namorado, Cory, filho de imigrantes portugueses – e de seu nome de batismo Duarte, nome que rejeita por achar que não é suficientemente integrador -, concretiza o sonho de ambos de frequentar Yale e segue para esta universidade.
Greer, que se debate com a falta de rumo inicial, conhece na universidade que frequenta a carismática Faith Frank, figura icónica do feminismo americano, com os seus 63 anos plenos de sapiência. Ao assistir à palestra desta feminista, Greer sente o apelo de projecto importante e de uma missão pessoal que seguirá com convicção. O livro detém-se na importância das convicções na vida de um ser humano, lendo-se como um forte testemunho sobre a condição feminina (atual e pretérita), na forma como três distintas mulheres (Faith, Greer e Zee) assumem os seus comportamentos e atitudes pessoais, sociais e morais, seja com desenvoltura, com a culpa mitigada sobre as opções que nortearam as acções cometidas, com calma e discrição, pela forma como lidam com a traição ou pelo absoluto domínio das situações.
Anos depois, já terminada a faculdade, Cory dedica-se à alta finança, enquanto Greer luta pelos seus ideais com fervor, numa fundação feminista liderada por Faith Frank. Encetam, no entanto – e por razões muito distintas -, percursos de vida diferentes, ambos se afastando do futuro que sempre imaginaram para si próprios, juntos. Um dia irão perceber como estão longe daquilo que sonharam ser, obrigados a confrontarem-se com os complexos desígnios da vida adulta que tudo mudam… e separam. Diz, nessa altura, Greer a Cory: “Eu sei (…) mas sinto que estares envolvido comigo é um fardo gigantesco que tu achas que tens de carregar. Um fardo maior do que cuidares da tua mãe. Tens de querer estar comigo. Eu não posso obrigar-te a querer. É esse o problema das relações. Quem quer que seja mais desinteressado consegue sempre estipular as condições”.
A forma como a trama avança e recua, muitas vezes dentro do mesmo capítulo, mostra um estilo original e o leitor, preso no desenrolar de uma história mesmo bem contada, vai assimilando as grandes questões do género, vividas por mulheres na primeira pessoa: assédio, sexismo, benevolência para com as suas ideias, aborto, tráfico de mulheres, prostituição. O tema feminista é abordado corajosamente na sua globalidade plurifacetada (a dignidade pessoal, a benevolência que é votada às ideias feministas, a desigualdade de género gerada pela geografia da pobreza, classe social ou cultural), não cedendo em nada à inexorável e atractiva cadência da história contada pelas vidas das duas (três, se incluirmos Zee, a mulher gay, andrógina e sexualmente atraente para além de vegetariana, defensora dos direitos dos animais e ativista política) personagens principais. Cada personagem conta para a história ser completa e, cada personagem, conta uma história relevante, num percurso pessoal onde todos os erros são duramente cobrados.
Um livro que vale muito pela maneira como obriga o leitor a ponderar, tal como Faith, as grandes questões – e as grandes desilusões – que emergem da causa feminista.
Sem Comentários