Este é o primeiro romance de Sérgio Mendes, depois de se ter iniciado na poesia e, em 2015, ter sido o vencedor da 2ª edição do Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce, com o livro “Orlando – O Caracol Apaixonado”.
Nasceu em 1974 e cresceu em Guimarães, no meio dos livros de poesia e filosofia do pai (o premiado poeta Firmino Mendes), nas florestas e campos da aldeia da avó materna. Estudou Física e escreveu poesia durante a maior parte da sua vida. Vive na Maia.
“O Quarto Da Mãe” (Coolbooks, 2018) é um extraordinário e pungente romance, com uma enorme carga dramática, no qual este escritor vimaranense conduz os leitores numa viagem tocante ao universo de uma criança de dez anos, a protagonista do livro, que convive de perto com a loucura que se vai apoderando de sua mãe, cidadã da então União Soviética.
Do pequeno apartamento em que vivem, no início dos anos 80, é também feito um retrato cruento de um Portugal numa época de profundas assimetrias, privações e abusos, mas onde há lugar para o amor e para a poesia, para a música (mãe pianista e professora de piano), que, neste caso e aos poucos, se torna o único elo de comunicação entre mãe e filho, que também toca piano.
A existência de uma irmã do protagonista é apenas (e é-o intencionalmente na narrativa) a de uma sombra. A história é comovente, mas paralelamente crua e brutal, e é a componente poética da narrativa que vai dando novo alento a quem escreve e a quem lê mergulhado numa história de uma criança que vive ”com medo de acordar com o barulho da morte”.
“Eu sei que a mãe está doente. Às vezes, grita e dá murros no teclado, fala sozinha na varanda. Eu sei que faz isso por ter sofrido muito em Leninegrado. Ela disse-me que comia gelo e sementes que apanhava no pátio”(…). O meu pai fugiu para França, levou a G3, mas envia-nos dinheiro todos os meses. A mãe deixou de dar aulas de piano e não faz de comer. Levanta-se depois do meio-dia e eu nunca ouço a porta do quarto a abrir. Fecha-se na casa de banho e aparece tal e qual como no dia anterior, vestida com madeixas louras e sem o meu sorriso.”
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