Ao pensarmos em literatura colombiana, não é difícil encontrar características que unem alguns dos seus grandes autores, como o grandioso Gabriel Garcia Márquez. Aquilo que é um exame à cultura sul-americana é, talvez, um dos principais elementos que faz esta distinção: a criação de um cenário cru e o enquadramento da narrativa e das personagens numa realidade quase palpável. Tome-se o exemplo da jovem escritora Mariana Enriquez, da Argentina, que, numa colectânea de contos publicada em Portugal o ano passado com o nome “As coisas que perdemos no fogo”, consegue levar o leitor para uma verdade quase palpável.
Lamentavelmente, “A Casa da Beleza” (Suma de Letras, 2018) falha na tentativa de alcançar esta materialização que nos permite visualizar cada uma das cenas desta história. O enfoque na Casa da Beleza propriamente dita e na forma como as personagens se cruzam, bem como nas suas circunstâncias, reforça a superficialidade deste thriller que, de misterioso, não tem muito. Embora a corrupção e a ganância sejam, de facto, alguns dos componentes que alimentam a narrativa, é notória a dificuldade que Melba Escobar teve em encaixar a história na realidade colombiana de uma forma credível e interessante.
O livro é narrado a várias vozes. De capítulo para capítulo, muda o narrador sem qualquer indicação de quem está a falar, sendo por vezes necessário ler duas ou três páginas para se conseguir perceber quem relata. Embora a ideia seja interessante e permita que o leitor conheça a realidade de várias personagens através do seu olhar, a concretização falha e torna a leitura desconcertante: «Afinal, quem é que está a falar agora?».
Quanto ao crime propriamente dito, o tema central do livro e que acaba por unir as várias personagens ao longo da narrativa, ficam as questões – sobretudo para quem gosta de thrillers e policiais: Afinal, qual o mote? Porque ficamos com a sensação de que o motivo é fraco? 200 Páginas para isto? Para quem tem por hábito ler este género de livros, não é uma leitura que se aconselhe. Indicado apenas para quem procure um livro ligeiro.
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[…] A Casa da Beleza, Suma de Letras, Deus Me Livro, Melba EscobarLamentavelmente, “A Casa da Beleza” (Suma de Letras, 2018) falha na tentativa de alcançar esta materialização que nos permite visualizar cada uma das cenas desta história. O enfoque na Casa da Beleza propriamente dita e na forma como as personagens se cruzam, bem como nas suas circunstâncias, reforça a superficialidade deste thriller que, de misterioso, não tem muito. [continuar a ler no Deus me Livro] […]