“Ter uma avó é como ter um exército. É o derradeiro privilégio dos netos: saberem que têm alguém sempre do seu lado sejam quais forem as circunstâncias. Mesmo quando estão errados. Na verdade, principalmente quando estão errados. Uma avó é, ao mesmo tempo, uma espada e um escudo.”
A relação entre uma avó e uma neta — que em tudo parecem fugir aos padrões ditados pela sociedade — dá o mote para o livro “A Minha Avó Pede Desculpa” (Porto Editora, 2018), do sueco Fredrik Backman, conhecido autor do bestseller “Um Homem Chamado Ove”.
Elsa tem sete anos. Os adultos dizem que é uma menina “diferente”, e o director da escola que tem de “aprender a integrar-se”. Como única amiga tem a sua excêntrica avó de setenta e sete anos, capaz de todas as loucuras para fazê-la esquecer as nódoas negras que traz da escola e o marcante divórcio dos pais. Salvar vidas enquanto cirurgiã e dar com as pessoas em doidas são os “superpoderes” da Avozinha, que todas as noites leva Elsa a refugiar-se nas suas histórias, no reino mágico de Miamas, onde o normal é ser diferente.
Quando a Avozinha morre, vítima de cancro, deixa a Elsa uma missão que a fará entrar numa grande aventura: entregar uma série de cartas em que pede desculpa a todas as pessoas que em vida prejudicou. À medida que avança nesta autêntica caça ao tesouro, Elsa vai percebendo que o reino de Miamas — onde acontecem os contos de fadas espantosos, monstruosos e mágicos da Avozinha — se cruza com a vida real. Este paralelismo revela-se o ponto mais fascinante para o leitor, que dá consigo a viajar entre o sonho e a realidade, à medida que vai conhecendo personagens profundamente bem construídas e inspiradoras.
Extremamente perspicaz e demasiado madura para a idade, Elsa vai descobrindo os segredos que se escondem no prédio onde mora e de que forma a Avozinha tocou nas vidas dos seus estranhíssimos moradores, mudando-as para sempre. Quando os factos reais se unem com a fantasia, vemos que os medos se transformam em pedra quando nos rimos deles, que nem todos os monstros se parecem com monstros — “há alguns que carregam a sua monstruosidade por dentro” — e que a riqueza está precisamente em se “ser diferente”.
“A Minha Avó Pede Desculpa” é uma história intensa, que prima por envolver imaginação, inteligência, aventura, amizade, esperança e perdão. Com grandes doses de sentido de humor, mas sobretudo de emoção, a narrativa vai com subtileza sendo pautada por lições de moral que nos mostram como o mundo mágico pode ser um refúgio, mas também esconder os mais importantes ensinamentos. Um livro que leva o leitor às lágrimas — face à dor e sofrimento de perder alguém que amamos —, mas que também o deixa com um sorriso no rosto, lembrando que esses permanecem para sempre connosco, no coração. Uma homenagem aos avós, comovente e enternecedora.
Sem Comentários