“As palavras têm música, têm ritmo e entram nas canções, que servem para ouvir mas também para se ler“. Uma frase retirada da contracapa de “Canções do Ar e das Coisas Altas” (Caminho, 2018), mais um livro ilustrado de uma dupla de sucesso: João Pedro Mésseder e Rachel Caiano.
Neste novo livro, dedicado a um plano mais elevado, Mésseder canta, com palavras impressas, a aversão aos aviões – “Eu gosto dos pés assentes no solo; Ou na natureza da imaginação” -, espeta o dedo contra o vento com ar desafiador – “-Eh lá, vento, vento; Que trazes o diabo; Levantas as saias; E gelas o rabo!” -, pergunta-se sobre um ladrão de nuvens – “Que sonhos sonhará?” – e mostra-se divertidamente perdido perante a noite e as estrelas – “Das estrelas não sei nada; Sei apenas que lá estão; Arder de amor por alguém?; Sentem febres, solidão?“.
Já vai sendo difícil encontrar palavras para descrever a forma como Rachel Caiano desenha o corpo – e sobretudo o rosto humano -, conferindo-lhe um ar sonhador e melancólico. Mas aqui há também pássaros em migração, folhas a reinar no Outono, barcos à vela a deslizar sobre águas negras, uma escada que parece subir ao infinito ou um mar feito de linhas, no qual repousa um farol. Desenhos e palavras que, no silêncio da leitura, se transformam em pura música.
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