Uma página à direita completamente em branco. Um general autoritário que quer ser o herói. Mais de uma centena de personagens a vaguear pela página da esquerda. Um guarda a cumprir ordens e uma fronteira bem definida, capaz de tudo, até de ser quebrada.
Porque “Daqui ninguém passa” (Planeta Tangerina, 2014) o melhor é cumprir a ordem e estancar, ali mesmo, na linha que separa a página da esquerda da página da direita. O guarda não está para brincadeiras e não quer saber qual a razão que motiva, cada personagem, a querer encher a página branca de cor. Há quem precise muito de fazer um telefonema, quem chute sem querer a bola de futebol para o outro lado, quem se esconda num capuchinho vermelho recusando-se a falar com estranhos e, até, quem se queixe de falta de ar dentro de um capacete de astronauta. Porém, seja qual for a razão e mesmo sem invasões, manifestações ou perigos de vida, a ordem é só uma: “Daqui ninguém passa. Ordens expressas do general que precisa de uma página completamente vazia para só ele brilhar, quando bem lhe apetecer.
Até que há alguém que passa a fronteira e inaugura a página da direita arrastando consigo todos os outros personagens e deixando o pobre guarda em maus lençóis. O general chega e, perante tamanha balbúrdia, toma uma medida contestada por todos.
Este é mais um título da Colecção de Cantos Redondos, vindo do Planeta Tangerina, um livro interactivo e digital totalmente feito de papel, de desenhos traçados a caneta de feltro e de mensagens precisas sobre autoridade e contestação, sobre “tem de ser” e “por que não”.
Isabel Minhós Martins assina o texto. Bernardo Carvalho as ilustrações. Os leitores embrenham-se na multidão, anseiam romper a fronteira e passear na página da direita e, mais lá para a frente, também levantam o guarda em braços e gritam “Viva”. O general até pode mandar neste livro, no seu início; contudo, lá para o final, pouco dirá sobre o rumo da história.
Sem Comentários