“Uma Nação Sob os Nossos Pés, Vol. II” (Goody, 2018) dá continuidade aos temas e ao estilo do primeiro volume da mini-série Pantera Negra, que tem uma qualidade política muito marcada, mais centrada em questões sociais e dilemas morais do que em acção e aventura. Continuamos a acompanhar os desafios do Pantera Negra, monarca de Wakanda, a braços com uma rebelião popular que ameaça transformar-se em guerra civil: do outro lado da barricada está o Xamã Tetu, auxiliado pela feroz telepata Zenzi, que manipula as emoções dos homens, transformando-os em marionetas furiosas.
O argumento continua a cargo do aclamado jornalista e escritor Ta-Nahesi Coates, a fazer a estreia nesta série como argumentista de BD. No primeiro volume sentiam-se – talvez por isso – alguns problemas de estrutura: muitos diálogos ruminativos e pomposos, uma sensação de dispersão e alguma falta de leveza tornavam a história algo maçuda. Neste segundo volume há um eixo mais centrado. O foco está, sobretudo, na desestabilização de Wakanda e nos esforços do Pantera Negra para trazer a sua irmã de volta de uma dimensão onírica – a memória colectiva de Wakanda -, onde ficou cativa após uma batalha antiga.
Ao contrário das bandas desenhadas mais convencionais, nesta história os heróis e os vilões não são claramente apontados. Põe-se mesmo em questão se o verdadeiro vilão não será o próprio Pantera Negra: a dada altura é notório que os responsáveis políticos das aldeias estão a cometer crimes, e são os rebeldes que saem em defesa do Povo de Wakanda quando o Rei não o consegue fazer. Coates joga com estas ambiguidades para criar uma narrativa complexa, multifacetada e densa. “Pode um bom homem ser um Rei, e uma sociedade avançada toleraria um monarca?” – é esta a questão à qual Coates diz ter tentado responder.
Este segundo volume é desenhado por Chris Sprouse, que procurou dar seguimento aos fantásticos desenhos que Brian Stelfreeze assinou no primeiro volume. O estilo é muito semelhante, mas para chegar à elevada fasquia de Stelfreeze ainda lhe falta um danoninho.
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