A Kalandraka continua, em modo de serviço público, a servir aos leitores portugueses a obra de Maurice Sendak, um dos mais influentes autores e ilustradores que, desde 1951, concebeu mais de 90 livros infantis, que lhe valeram prémios tão distintos quanto a Caldecott Medal, em 1963, o Prémio Andersen, em 1970, e o Prémio Laura Ingalls, em 1983.
Desta vez, chegam às livrarias nacionais dois títulos em formato bolso e de ar muito vintage, ambos dominados pelo muito particular e travesso humor de Sendak: “Duarte” (Kalandraka, 2018) e “Canja de Galinha com Arroz” (Kalandraka, 2018).
“Duarte”, que tem como título completo Duarte numa história moral em cinco capítulos e um prólogo, apresenta-nos a um rapaz que tem o irritante hábito de responder, a qualquer coisa que lhe perguntem, com um desafiante “tanto faz!”. Uma indiferença que se manifesta em todas as ocasiões, seja quando lhe desejam um bom dia ou lhe perguntam o que quer comer ao pequeno-almoço, ocasiões onde aproveita para derivar com uns “quero lá saber!”, “que me importa!” ou “não me interessa!”. Até que um improvável animal se atravessa no seu caminho, mostrando-lhe a “moral interessante” anunciada no prólogo: afinal, há coisas que importam.
Quanto a “Canja de Galinha com Arroz”, propõe uma viagem pelo calendário com paragens mensais e rimas mergulhadas numa solução tão nonsense como esta:
“Em Janeiro
quando cai a neve
e o frio é atroz,
gosto de patinar no gelo
e provar canja de galinha
com arroz.”
A técnica utilizada é a da repetição, onde com muito amor se vai quase cantando:
“O ovo, não sei quem o pôs.
Mas adoro canja de galinha
com arroz.”
Aqui, a canja de galinha serve mesmo para tudo: regar as flores, engrossar o caudal do Nilo ou acompanhar rabanadas na ceia de Natal. Quanto ao leitor, ficará a pensar com os seus botões: qual a minha comida preferida, aquela que poderia comer durante todos os meses do calendário?
Ambos os títulos partilham ilustrações que utilizam quase exclusivamente o azul e o amarelo – para lá do clássico preto e branco -, bem como as rimas deliciosas, a subtil irreverência e um humor que, por direito próprio, poderá ser designado por Sendakino. Um festim duplo que integra uma famosa série de clássicos do autor/ilustrador de 1962, da qual fazem também parte “Vida de crocodilo, um alfabeto” e “João e mais oito, um livro para contar”. Uma colecção que foi distinguida pela Associação de Bibliotecas Americanas, tendo o próprio autor feito uma adaptação para o musical Really Rosie, de 1975, interpretado por Carole King.
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