“Os Távoras” (Bertrand, 2018) é o sexto livro de Maria João Fialho Gouveia, autora que publica, desde 2013, sobretudo romances históricos. E também este se estriba em factos históricos, centrando-se ficcionalmente no séc. XVIII, no seio da poderosa família da coroa portuguesa implicada num obscuro atentado ao Rei D. José I, na noite de 3 de setembro de 1758.
Este atentado – obscuro, porque a sua autoria e intencionalidade nunca foram provadas e as suspeições recaem até no próprio Marquês de Pombal(!) -, ocorrido depois de um alegado encontro amoroso com a sua amante, D. Teresa Tomásia, mulher do Marquês “novo” de Távora, levou Sebastião José de Carvalho e Melo (que seria feito Conde de Oeiras após o suplício dos Távoras, e Marquês de Pombal em 1770) a tudo fazer para incriminar esta grande nobre família.
Os Marqueses “velhos” de Távora, seus filhos e genro, são presos juntamente com os grandes das Casas do Reino (o Duque de Aveiro, os marqueses de Alorna e os Condes de Atouguia, Óbidos e da Ribeira Grande) e indiciados de tentativa de assassinato do Rei.
A autora mantém uma grande fidelidade à História de Portugal, não só sobre a vida da Corte no Séc. XVIII (reinados de D. João V., de D. José I e de D. Maria I) mas, também, sobre a sociedade e a própria estrutura, dimensão a expansão do núcleo medieval de Lisboa, antes e depois do Terramoto, dando origem à dilatação urbana da cidade.
Por Sentença da “Junta da Inconfidência” de 12 de janeiro de 1759, são os Távoras sentenciados à morte e executados de forma crudelíssima e macabra, em Belém, a mando de D. José, mas cujo massacre que se supõe gizado pela “mão” de Carvalho e Melo, na manhã de 13 de janeiro seguinte, perante a assistência do povo e perante a nobreza do Reino, totalmente desorientada ao ver a execução dos seus pares.
Neste romance histórico, Maria João Fialho Gouveia ficciona as conversas e a amizade mantida (sempre) por duas personagens diferentes (Dona Teresa Tomásia, 4ª Marquesa de Távora e Amante do Rei, e sua cunhada, Dona Mariana Bernarda, Condessa de Atouguia) no seu modo de encarar a vida e de a viver, entre o pecado e a virtude. Bastante apimentado no que concerne aos encontros carnais entre o Rei e a sua nobre amante, tem tudo para ser lido com um duplo interesse: o de conhecer a História sobre o poder e altivez dos grandes Távoras, que tanto incomodaram o futuro Marquês de Pombal – que presidiu ao Tribunal da Inconfidência que os sentenciou à morte em 1759 -, e o de saborear uma história, muito bem ficcionada, de amor, de laços entre as famílias nobres e do seu poder e proximidade ao Rei.
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