Quando se fala em realidades distópicas, é possível encontrar enormíssimas referências como Margaret Atwood, George Orwell, Phillip K. Dick, Anthony Burgess, Aldous Huxley ou H.G. Wells. A concepção e a construção de uma realidade considerada como absolutamente absurda – mas em simultâneo assustadoramente real – não é apenas ímpar mas, também, fruto de um olhar imensamente crítico à sociedade, conjugado com uma enorme capacidade de antecipação e de criação de uma realidade surreal. Não é de admirar, por exemplo, o sucesso da série televisiva Black Mirror que, caracterizada pela centralização de uma problemática social em torno da tecnologia, tem vindo a contribuir para a abertura de diálogo sobre a utilização e o impacto dessa mesma tecnologia.
É por esse motivo que “Os Monociclistas” (On y va, 2018) surge como um projecto arriscado. Literatura de ficção científica, realidades distópicas e problemáticas sociais são os principais traços deste livro de contos que pretendem assustar e criticar. Não é fácil, porém, alcançar um objectivo tão exigente. Pode dizer-se que se encontra uma crítica – ou uma paródia – e um enorme exacerbamento sobre a utilização dos vários tipos de tecnologia do quotidiano (e outras que poderiam ser consideradas no limite do bom senso), mas talvez a construção dos contos não seja suficientemente cativante, e o resultado deixe a desejar que o autor tivesse arriscado mais e ousado chocar os leitores.
Não deixa porém de ser interessante a visão do autor sobre o tema, pois há questões deixadas em aberto que podem perfeitamente servir de mote para uma conversa bem acesa (entenda-se, rica) sobre o poder da tecnologia sobre as pessoas, a influência da indústria na sociedade e o impacto de hábitos de consumo na transformação de rotinas – e, logo, o seu impacto no futuro.
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