“Em tempos idos, os homens olhavam para os céus e muitos tremiam, pois neles reinavam os dragos, reis e senhores incontestados no horizonte.”
Com argumento de Filipe Faria e desenhos de Manuel Morgado, Dragomante é uma nova série nacional de banda desenhada, servida em formato de álbum, que tem como apresentação “Fogo de Dragão” (Comic Heart/G. Floy, 2018).
Neste universo sem tempo dominam os dragomantes, homens e mulheres que despontaram de “um desesperado rito místico” – que faz com que os corações de ambos batam em sintonia -, e que acabaram por assumir o papel de pastores perante os dragos, qualquer coisas como uns lobos alados, conseguindo-os amansar como se se tratassem de cães domésticos. Mas, como já dizia noutro hemisfério um tipo conhecido como Homem-Aranha, um grande poder carrega consigo uma grande responsabilidade, havendo que saber temperar o fogo com a misericórdia.
Nereida, a jovem e fogosa protagonista de Dragomante, não conseguiu ainda esse domínio, e teme que um dia possa, tal como o pai Edégeon, deixar-se consumir pelo fogo do poder. Para esse equilíbrio um dragomante deve ter o seu escudeiro, alguém que age nas sombras desempenhando um papel aparentemente secundário, servindo como “um elo com a humanidade que o domador de feras não deve perder“.
No caso de Nereida o escudeiro dá pelo nome de Ékión, alguém que reúne o requisito maior de todos: ter passado por uma enorme perda. Um tipo que, ainda assim, parece querer recusar o papel de escudeiro, tendo com Nereida uma relação que é toda ela conflituosa. A gerir tudo isto está o perceptor Leunaius, que deve ter tomado uma dose cavalar de comprimidos de paciência de forma a gerir os amuos e birras constantes de ambas as partes.
Na sombra de tudo isto vai-se movendo Gárgol, a quem Edégeon derrotou para ser armado paladino, e que nesse momento jurou vingar-se na sua família e em tudo o que lhe era querido. E que, à boa maneira dos Slytherianos de Potter, também olha com maus olhos para os mugles lá do sítio.
As ilustrações seguem o espírito das BDs históricas, com tons carregados e sangue que corre em modo de bar aberto, alternando entre as paisagens de cortar a respiração e vinhetas de grandes planos, onde se evidencia um cuidado com o pormenor e uma atenção aos pequenos detalhes. Uma série que parece ter asas e escamas para voar.
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