Voltar à casa dos avós, onde se viveram os melhores episódios da infância, é encontrar as divisões mais pequenas, as mobílias mais baixas e os corredores mais curtos. Adultos recuperamos naquele espaço memórias gigantes, num cenário agora de casa de bonecas. Por lá sentimos as nossas pernas compridas para a altura do tecto. Por lá sentimos as saudades da infância crescidas e engolidas pelo passado distante.
“O Regresso” (Bruaá, 2014) é um livro sem palavras com um dicionário de saudades completo guardado dentro dele. A menina que regressa a casa da avó chega maior do que a casa, do que a mesa, do que a árvore do quintal. Porém, parte pequena perante tudo o que reviveu naquele lugar tão seu. À chegada a avó recebe-a minúscula, agarrando-lhe a perna por não lhe alcançar todo o corpo. Juntas partilham o cheiro da comida que cozinha no tacho, o sabor da fruta acabada de descascar, invertendo papéis do passado numa viagem de reencontros.
Então, no final do dia – que é o final da história -, a neta volta a sentir-se pequenina, encostada ao ombro da avó, repleta das memórias do melhor que ali viveu, sente e recupera neste regresso. A casa ganha a dimensão certa, dentro de um olhar que vê e repara como as coisas eram e como as coisas serão sempre. Voltar aos lugares da infância é levar o corpo mais crescido, mas o olhar do tamanho certo das saudades.
Natalia Chernysheva é formada em Multimédia e Animação, pela Academia Federal de Arquitetura e Artes dos Urais, na Rússia, país onde nasceu. A sua estreia enquanto realizadora aconteceu com o filme “Floco de neve”, mas participou em vários filmes animados, como animadora e criadora de personagens. Enquanto estudante na escola francesa “La Poudrière” realizou os filmes “Os amigos” e “O regresso”, este último é a obra que origina posteriormente o livro editado, em Portugal, pela Bruaá.
Le retour from Natalia Chernysheva on Vimeo.
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