Pauline Cornelisse é uma escritora, humorista e cronista holandesa. Os seus espectáculos de humor são afamados e premiados e, através de “A Vida de uma Porquinha-da-Índia no Escritório” (Guerra & Paz, 2018), tomamos contacto com a vida rotineira e, ao mesmo tempo, extraordinária de Cobaia, a protagonista de um quotidiano repartido entre o escritório – onde trabalha como especialista em comunicação -, a relação com os colegas e os chefes, as paixões, a solidão, os sonhos, os medos e os desafios.
Cobaia era feliz. Ou talvez não. Tinha amigos. Ou seriam apenas colegas? Apreciava a rotina dos dias absolutamente previsíveis, entre a casa e o escritório, o café habitual e as parcas escapadelas sociais. Vivia através dos outros a sua própria existência, dividida entre a frustração dos fracassos amorosos, o alento da crença em si própria e o receio do imprevisto. Ainda assim, arriscava. Superava-se através das pequenas insurreições no escritório e da contida oposição perante a injustiça, a que não ficava indiferente.
Pensar o banal e processar a frustração com humor não é fácil. Paulien Cornelisse fá-lo com inteligência e subtileza, requisitos para que, numa leitura acessível, se retenham múltiplas mensagens. O entorpecimento, as fugas, as relações, as cumplicidades – e até a ténue ousadia de Cobaia – ajudam-nos a rir de nós próprios e do mundo. Faz-nos sentir exímios praticantes de um espaço público que nos impele a agir como monges. O humor como um acto de rebeldia, de questionar as regras e de afirmar a inteligência, libertando ansiedades.
Facilmente o leitor personificará a Cobaia ou os seus colegas: Kim, a afável e acomodada colega da comunicação; Anne-Bet, dispensada por faltar para cuidar do cão que tinha pedras nos rins; Roy, o sensível recepcionista gay, sempre disposto a ouvir os desabafos; Stella, a irónica responsável pelos recursos humanos; Harm-Jan, o tímido informático, que manteve um Tamagotchi durante seis anos e tinha fobia de telefones; Ruud, o impactante “controller” e “fura-vidas”, chefe do departamento financeiro. Em “A Vida de uma Porquinha-da-Índia no Escritório”, excelente exemplo de literatura de humor, reflecte-se com a ironia e a sátira, alimento de excelência para os mais sisudos.
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