Um exorcismo extremo, com muito sangue, armações e lentes partidas, uma banheira cheia de água fria e tudo o que é fonte de luz ligado no ponto máximo. É este o pontapé de saída para “Uma Pequena Luz” (G. Floy, 2017), o terceiro volume da série Outcast – reúne os números #13-18 dos comics -, a mesma que a Fox adaptou a uma série televisiva.
Kyle Barnes é, sem precisar de papel ou certidão, o exorcista oficial de serviço, com intervenções planeadas ou visitas ao domicílio encomendadas à última hora, aquilo que os demónios chamam de proscritos – demónios que os odeiam mas que, ainda assim, não podem viver sem eles, mesmo que a ameaça esteja sempre lá: “A tua luz guia-nos…mas ainda conseguimos encontrar o nosso caminho na escuridão“.
Allison, a ex-mulher de Kyle, recusa-se a acreditar que magoou Megan, a filha de ambos, e que esta possa ter também dentro dela a mesmo escuridão do pai. Já o Reverendo deixa-se dominar pela fúria com a entrada em cena de Sidney que, para si, representa o próprio diabo, que terá sido enviado para impedir os salvamentos que ele e Kyle têm realizado com sucesso.
É também este o volume onde se irá dar uma espécie de descoberta literária, onde, aplacar os demónios, a Bíblia poderá ser trocada pelas Páginas Amarelas. Afinal, a fraqueza dos demónios está relacionada com os 5 sentidos que, quando estimulados a um ponto-limite, revelam a sua fraqueza. Algo que, a juntar a outras circunstâncias, fará com que o Reverendo duvide cada vez mais: “Acho que Deus é um cretino. (…) Às vezes não vos parece, tipo, que ele está só, bem, a gozar connosco?“.
Porém, mesmo que esta improvável dupla constituída por um ateu e um cristão pareça estar a dar conta do recado, sábias parecem ser as palavras de Sidney quando, antecipando o projecto a que chama de Fusão, diz na cara de Kyle: “Parece que não me teme tanto quanto devia“.
Claramente mais interessante que o anterior volume, “Uma Pequena Luz” continua a oferecer uma das mais cativantes séries no que toca ao desenho de personagens e ambientes e, sobretudo, ao uso algo tenebroso das cores, numa paleta onde não parece haver lugar para tons felizes.
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