“ – Mamã? – chama ele.
– Estás pronto? – sussurra. – Tens de prestar atenção e fazer exactamente o que te disser. E não fazer nenhum barulho.
– Senão eles matam-nos. – completa ele.
Ela pensa nisto.
– Senão podem matar-nos. – concorda.”
O thriller é o género mais indicado para os leitores ávidos por um pedaço de entretenimento. São páginas e páginas compostas por momentos fugazes, protagonistas perspicazes e outros ingredientes que, estrategicamente, colocam as emoções à flor da pele. “Reino de Feras” (Suma de Letras, 2018) é uma das grandes apostas da Suma de Letras (chancela da Penguin Random Portugal) para o início de 2018, uma história que promete cortar a respiração aos leitores: mãe e filho – ele com apenas 4 anos – presos num jardim zoológico, percebendo que há uma pessoa a disparar sobre todos os visitantes. A partir desse momento, tudo vale para se protegerem e escaparem são e salvos.
Naquele dia, as regras para o pequeno Lincoln são diferentes: tem que se esconder para não deixar que o “homem da pistola” o encontre. Para a protagonista, o verdadeiro desafio vai começar a partir do momento em que tem de deixar o filho sossegado e escondido. Sem noção da passagem do tempo e ao permanecer tanto tempo no jardim zoológico, conseguirá Joan controlar o filho para não serem descobertos pelo assassino? Ao longo da narrativa, descrita na maioria das vezes sob o olhar desta mulher, há uma mistura de decisões que chama a atenção de qualquer leitor: como não transmitir medo ao filho, distraindo-o mas mantendo-o sempre alerta para os perigos que podem surgir?
Sendo “Reino de Feras” uma estreia da autora no género literário, pode dizer-se que é um óptimo exemplar para os amantes do género, reunindo todos os ingredientes que fazem um bom thriller. A meio da narrativa há uma única falha palpável: a capacidade de manter o leitor curioso. São dadas demasiadas informações para o final da história, quando Joan e o filho poderiam ter seguido um caminho mais directo. Mas tudo volta ao lugar com o excelente final escolhido pela autora.
Para os que não têm a experiência de maternidade/paternidade, colocar-se no papel desta personagem é um exercício interessante e intenso: como pôr as nossas necessidades em segundo lugar num momento de puro perigo? Mais do que um livro de suspense, Gin Phillips dá a conhecer uma definição poderosa de amor. Em toda a história da literatura (e restantes culturas), não há ligação mais forte do que a estabelecida entre mãe e filho – “We Need To Talk About Kevin” e “O Quarto de Jack” são apenas alguns exemplos. No final, fica a complexa questão no ar: o que faria no lugar desta mulher? Joan que é, provavelmente, um dos melhores retratos de pura coragem que surgiram na literatura dos últimos tempos.
“Quando vê uma mulher com os braços em torno de um bebé, cobiça-o. Aquele bebé, a pele da sua cabeça como papel. A boquinha aberta. As mãos a agitar-se no ar.
Não os chama. Não diz uma palavra.
Em vez disso, fica a ver a sombra escura da mulher passar pelos bambus, a balouçar da cintura para cima o tempo todo. O bebé não se cala. E depois a sombra e o som desaparecem, e Lincoln e ela voltam a ficar sozinhos.”
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