É um daqueles rótulos que os autores, e neste caso específico o seu organizador, têm de ver impressos nas capas dos livros, tudo em nome das técnicas de marketing de guerrilha que se destinam a impingir ao leitor a versão máxima, espremida e condensada de um universo de perder de vista. “Os Cem Melhores Poemas Portugueses dos Últimos Cem Anos” (Companhia das Letras, 2017) não escaparam a este desejo de condensação, mas deverão ser lidos à luz da velha máxima quase proverbial de que não se deve julgar um livro pela capa (ou, neste caso, pelo título).
José Mário Silva, jornalista, crítico literário e também ele autor – tem publicados dois livros de poesia, “Nuvens e Labirintos” (com o qual ganhou o Prémio Literário Cidade de Almada) e “Luz Indecisa” e um de contos, “O Efeito Borboleta” -, é o responsável por esta antologia secular, tratando desde logo de definir “melhor” como “um adjectivo problemático”, uma vez que estará sempre associado a uma escolha “imperfeita, discutível, precária”. Rótulos e estratégias à parte, a ganhar ficará o leitor com esta escolha muito pessoal de José Mário Silva, que na hora da decisão optou pela representatividade.
Para o organizador, poetas como Jorge de Sena, Sophia de Mello Breyner Andresen ou Herberto Helder mereceriam estar representados com um maior número de poemas, mas a opção foi a de escolher apenas um poema por autor – excepção feita a Fernando Pessoa que, na sua multiplicidade, está representado enquanto ortónimo e através das suas três principais encarnações: Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis.
Não há aqui um respeito pelo tempo histórico ou pelas circunstâncias que levaram ao nascimento do poema, sendo todos eles, dessa forma, “puros artefactos verbais”. Cem poemas de cem poetas, atirando com as preocupações cronológicas às urtigas, onde a única divisão acabou por ser a criação de quatro categorias abrangentes – Retratos, Relatos, Desacatos e Hiatos -, com tanto de continuidade como de disrupção.
Seja uma porta de entrada para os iniciantes ou um divã para os já habitués, “Os Cem Melhores Poemas Portugueses dos Últimos Cem Anos” são uma antologia de alguns dos mais belos poemas portugueses escritos nos últimos cem anos, que trazem para a linha da frente um género literário a que muitos torcem o nariz. Pegando no legado Depechiano, qualquer coisa como Poesia para as Massas.
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