Perplexidade metafísica. Mortes presentes e em suspenso. Uma aventura por entre a linguagem. Uma ideia de pátria. Características descritas no prólogo original da “Nova Antologia Pessoal” (Quetzal, 2017), do mestre Jorge Luis Borges, prólogo que ficou de fora da edição que chegou às livrarias nacionais na recta final do último ano.
Borges que, no que toca a escrever muito com uma economia de palavras, terá provavelmente sido o maior dos maiores. Bastará recordar “A Biblioteca de Babel”, colecção dedicada ao universo fantástico escolhida, dirigida e prefaciada pelo escritor argentino, para ter acesso a micro-narrativas de uma só página – às vezes nem isso – e a livros que, só pelo prefácio, mereceriam ser comprados.
Organizada pelo próprio Borges e publicada pela primeira vez em 1968, esta colectânea encontra-se dividida em quatro partes, reunindo ensaios, poemas, contos e prosa de ficção, que o autor vinha publicando desde os anos 1930.
Aqui se descobrem alguns de seus trabalhos mais célebres, como os contos “A Intrusa” e “Tlön, Uqbar, Orbis Tertius” e os poemas “Everness” e “Junin”, sendo igualmente de destacar o conjunto de textos que Borges escreveu sobre a própria literatura, por onde passam figuras como Nathaniel Hawthorne, Oscar Wilde ou Chesterton.
As Antologias, em Borges, desempenharam um papel muito importante, quase de carácter diarista, onde pelo diálogo com o já escrito abriu caminho a novos textos, sempre numa reinvenção constante. Um escritor que soube ler o mundo e também ler-se a si próprio, e que acabou por se tornar, de certa forma, um clássico indie das letras. A Borges o que é de Borges – neste caso, o mundo inteiro.
“Clássico não é um livro (repito-o) que necessariamente possua tais ou tais méritos; é um livro que as gerações dos homens, instadas por diversas razões, lêem com prévio fervor e com uma misteriosa lealdade.“
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