Carlos Alberto, o pequeno narrador desta história, tem um mau feitio tremendo, e detesta o bairro onde vive. Passa os dias a sonhar com bandas filarmónicas, casas assombradas ou piratas e tesouros enterrados, mas revela-se incapaz de olhar para aquilo que acontece mesmo à sua volta (e não é pouca coisa).
Na cabeça de Carlos Alberto o bairro está pintado de preto e branco, mas se espreitasse com mais atenção veria uma animação tremenda, quase como se o seu bairro fosse uma metrópole onde acontecem as coisas mais estranhas e incríveis.
O trabalho gráfico deste “Nunca Se Passa Nada No Meu Bairro” (bruáa, 2017), escrito e ilustrado por Ellen Raskin, é exemplar. Ao negrume destilado pelo Carlos Alberto, reflectido numa visão do bairro com uma costela Dickensiana, opõe-se uma paleta de cores vibrantes, cada uma delas um reflexo de todas as emoções e excitações que vão rebentando em cada página, sem que Carlos Alberto nisso repare por estar demasiado ocupado num monólogo interior e de braço dado com a neura. Abre os olhos Carlos, apetece gritar.
Sem Comentários